Chopin
12. (Após a evocação.) ─ Poderíeis dizer-nos em que situação estais como
Espírito?
─ Ainda errante.
13. ─ Lamentais a vida terrena?
─ Eu não sou infeliz.
14. ─ Sois mais feliz do que antes?
─ Sim, um pouco.
15. ─ Dizeis um pouco, o que quer dizer que não há grande diferença. Que é o que vos falta para o serdes mais?
─ Eu digo um pouco em relação àquilo que eu poderia ter sido, porque com a minha inteligência eu poderia ter avançado mais do que avancei.
16. ─ Esperais alcançar um dia a felicidade que vos falta atualmente?
─ Certamente que ela virá, mas serão necessárias novas provas.
17. ─ Mozart disse que sois sombrio e triste. Por que isto?
─ Mozart disse a verdade. Entristeço-me porque não cumpri a contento um compromisso assumido e não tenho coragem de recomeçar.
18. ─ Como considerais as vossas obras musicais?
─ Eu as prezo muito. Mas entre nós fazemo-las melhores, sobretudo as executamos melhor. Dispomos de mais recursos.
19. ─ Quem são, pois, os vossos executantes?
─ Temos às nossas ordens legiões de executantes, que tocam as nossas composições com mil vezes mais arte do que qualquer um dos vossos. São músicos completos. O instrumento de que se servem é a própria garganta, por assim dizer, e são auxiliados por instrumentos semelhantes a órgãos, de uma precisão e de uma sonoridade que acredito não possais compreender.
20. ─ Sois de fato errante?
─ Sim. Isto é, não pertenço a nenhum planeta exclusivamente.
21. ─ E os vossos executantes? São, também, errantes?
─ Errantes como eu.
22. (A Mozart) Teríeis a bondade de explicar o que acaba de dizer Chopin? Não compreendemos essa execução por Espíritos errantes.
─ Compreendo o vosso espanto. Entretanto, já vos dissemos que há mundos particularmente destinados aos seres errantes, mundos que eles podem habitar temporariamente, espécies de bivaques, de campos de repouso para esses Espíritos fatigados por uma longa erraticidade, estado que é sempre um pouco penoso.
23. (A Chopin) Reconheceis aqui um de vossos alunos?
─ Sim. Parece.
24. ─ Teríeis a bondade de assistir à execução de um trecho de vossa
composição?
─ Isto me daria muito prazer, sobretudo quando executado por uma pessoa que guardou de mim uma grata recordação. Que ela receba os meus agradecimentos.
25. ─ Quereis dar a vossa opinião sobre a música de Mozart?
─ Gosto muito. Considero Mozart meu mestre.
26. ─ Partilhais de sua opinião sobre a música de hoje?
─ Mozart disse que a música era melhor compreendida em seu tempo do que hoje. Isto é verdade. Objetarei, entretanto, que ainda existem verdadeiros artistas.
NOTA: O fragmento de sonata ditado pelo Espírito de Mozart acaba de ser publicado. Pode ser adquirido no Escritório da Revue Spirite ou na livraria espírita do Sr. Ledoyen, Palais Royal, Galerie d’Orléans, 31. Preço: 2 francos ─ Será remetido com porte pago contra vale postal daquela importância.