Palestras familiares de além-túmulo
Um oficial do exército da Itália
1. (Evocação).
─ Eis-me aqui. Falai.
2. ─ Prometestes voltar a ver-nos e aproveitamos a ocasião para vos pedir algumas explicações complementares.
─ Com prazer.
3. ─ Depois da vossa morte assististes a alguns combates?
─ Sim, ao último.
4.
─ Quando, como Espírito, sois testemunha de um combate e vedes os
homens se estraçalharem, experimentais algum sentimento de horror, como
nós experimentaríamos se assistíssemos a cenas semelhantes?
─ Sim, eu o experimentava, mesmo como homem, mas então o respeito humano recalcava esse sentimento como indigno de um soldado.
5. ─ Há Espíritos que sentem prazer vendo essas carnificinas?
─ Poucos.
6. ─ Ao verem isso, que sentimentos experimentam os Espíritos de uma ordem superior?
─ Grande compaixão; quase desprezo. Aquilo que vós mesmos experimentais ao verdes os animais se dilacerarem entre si.
7. ─ Assistindo a um combate e vendo homens morrerem, testemunhais a separação entre a alma e o corpo?
─ Sim.
8. ─ Nesse momento vedes dois indivíduos, o Espírito e o corpo?
─ Não. Que é então o corpo?
─ Mas nem por isso o corpo deixa de estar lá, e ele deve ser distinto do Espírito.
─ Um cadáver, sim, mas não é mais um ser.
9. ─ Qual a aparência que tem então o Espírito?
─ Leve.
10.
─ O Espírito afasta-se imediatamente do corpo? Peço-vos a fineza de
descrever tão explicitamente quanto possível as coisas como se passam e
como nós as veríamos, se fôssemos testemunhas.
─ Há poucas mortes
realmente instantâneas. A maior parte do tempo o Espírito cujo corpo foi
atingido por uma bala ou uma granada, diz a si mesmo: “Vou morrer,
pensemos em Deus e no céu. Adeus, Terra que eu amava”. Depois desse
primeiro
sentimento, a dor o arranca do corpo, e é então que podemos
distinguir o Espírito que se move ao lado do cadáver. Isto parece tão
natural que a vista do corpo morto não produz efeito desagradável. Tendo
sido toda a vida transportada para o Espírito, só ele chama a atenção; é
com ele que conversamos; a ele é que damos ordens.
OBSERVAÇÃO:
Poderíamos comparar esse efeito ao que é produzido por um grupo de
banhistas. O espectador não presta nenhuma atenção às roupas que
deixaram à beira d’água.
11. ─ Geralmente, surpreendido por uma morte
violenta, durante algum tempo o homem não se julga morto. Como se
explica a sua situação, e como pode ele ter ilusões, desde que deve
sentir muito bem que o seu corpo não é mais material e resistente?
─ Ele o sabe e não tem ilusão.
OBSERVAÇÃO:
Isto não é perfeitamente exato. Sabemos que há Espíritos que em certos
casos têm essa ilusão e julgam não estar mortos.
12. ─ No fim da
batalha de Solferino desabou uma violenta tempestade. Foi por uma
circunstância fortuita ou por um desígnio providencial?
─ Toda circunstância fortuita é resultado da vontade de Deus.
13. ─ Essa tempestade tinha um objetivo? Qual seria ele?
─ Sim, por certo: cessar o combate.
14. ─ Foi provocada no interesse de uma das partes beligerantes? Qual delas?
─ Sim, sobretudo para os nossos inimigos.
─ Por quê? Poderíeis explicar-vos mais claramente?
─ Perguntais-me por quê? Não sabeis que, sem essa tempestade, nossa artilharia não teria deixado escapar nenhum austríaco?
15. ─ Se essa tempestade foi provocada, deve ter tido agentes que a provocaram. Quais foram eles?
─ A eletricidade.
16. ─ Esse é o agente material, mas há Espíritos que têm por atribuição conduzir os elementos?
─ Não. Basta a vontade de Deus. Ele não necessita de auxiliares tão comuns. (Vide mais adiante o artigo sobre as tempestades).
O general Hoche
1. (Evocação)
─ Estou convosco.
2.
─ A Sra. J... nos disse que vos tínheis comunicado espontaneamente com
ela. Com que intenção o fizestes, uma vez que ela não vos havia chamado?
─
Ela é que me traz até aqui. Eu desejava ser chamado por vós e sabia que
indo à casa dela seríeis informados e provavelmente me evocaríeis.
3.
─ Dissestes a ela que estáveis acompanhando as operações militares na
Itália. Isto é natural. Poderíeis dizer-nos o que pensais a respeito?
─ Elas produziram grandes resultados. Em meu tempo a gente se batia mais longamente.
4. ─ Assistindo a essa guerra, tendes um papel ativo?
─ Não, simples espectador.
5. ─ Outros generais do vosso tempo lá estiveram convosco?
─ Sim, bem o podeis supor.
6. ─ Poderíeis apontar alguns?
─ Seria inútil.
7.
─ Dizem-nos que Napoleão I estava presente, o que não é difícil de
acreditar. Quando das primeiras guerras da Itália, ele era simples
general. Poderíeis dizer-nos se nessa guerra ele via as coisas do ponto
de vista do general ou do imperador?
─ De ambos, além de um terceiro: do diplomata.
8.
─ Quando vivo, vosso posto era quase igual ao dele. Como depois da
vossa morte ele subiu muito, poderíeis dizer-nos se, como Espírito, o
considerais como vosso superior?
─ Aqui reina a igualdade. O que quereis saber com isso?
OBSERVAÇÃO:
Sem dúvida ele entende como igualdade que os Espíritos não levam em
conta as distinções terrenas, com as quais de fato pouco se preocupam e
que nada vale entre eles, mas a igualdade moral está longe de existir
ali. Há entre eles uma hierarquia e uma subordinação, baseadas nas
qualidades adquiridas, e ninguém pode subtrair-se ao ascendente daqueles
que são mais elevados e mais puros.
9. ─ Acompanhando as peripécias da guerra, prevíeis a paz tão próxima?
─ Sim.
10. ─ Isto era para vós simples previsão ou tínheis um conhecimento prévio e
certo?
─ Não; me haviam dito.
11. ─ Sois sensível à lembrança que de vós guardamos?
─ Sim, mas eu fiz tão pouco.
12. ─ Vossa viúva acaba de morrer. Vós a encontrastes imediatamente?
─ Eu a esperava. Hoje vou deixá-la. A existência me chama.
13. ─ É na Terra que deveis ter uma nova existência?
─ Não.
14. ─ O mundo para onde devereis ir nos é conhecido?
─ Sim. Mercúrio.
15. ─ Esse mundo é moralmente superior ou inferior à Terra?
─ Inferior. Eu o elevarei. Contribuirei para fazê-lo classificar-se melhor.
16. ─ Já conheceis esse mundo para onde deveis ir?
─ Sim, muito bem. Talvez melhor do que o conhecerei quando habitá-lo.
OBSERVAÇÃO:
Esta resposta é perfeitamente lógica. Como Espírito, ele vê o mundo na
sua plenitude. Como encarnado, vê-lo-á do ponto de vista restrito da sua
personalidade e da posição social que ocupar.
17. ─ Do ponto de vista físico, os habitantes desse mundo são tão materiais quanto os da Terra?
─ Sim, completamente. E mais ainda.
18. ─ Fostes vós que escolhestes esse mundo para vossa nova existência?
─
Não, não. Eu teria preferido uma terra calma e feliz. Lá encontrarei
torrentes de mal a combater e os furores do crime a punir.
OBSERVAÇÃO:
Quando nossos missionários cristãos vão aos povos bárbaros para tentar
fazer que neles penetrem os germes da civilização, não desempenham uma
função análoga? Por que então nos admirarmos de que um Espírito elevado
vá a um mundo atrasado, com o fito de fazê-lo progredir?
19. ─ Essa existência vos é imposta por constrangimento?
─
Não. Foi-me aconselhada. Fizeram-me compreender que o destino, a
Providência, se assim quiserdes, ali me chamava. É como a morte antes de
subir ao Céu. É preciso sofrer e, infelizmente, eu não sofri o
bastante.
20. ─ Sois feliz como Espírito?
─ Sim, sem dificuldades.
21. ─ Quais foram as vossas ocupações como Espírito, desde o momento em que deixastes a Terra?
─
Visitei o mundo, a Terra inteira. Isto exigiu um período de alguns
anos. Aprendi as leis que Deus emprega para conduzir todos os fenômenos
que contribuem para a vida terrena. Depois, fiz o mesmo em diversas
outras esferas.
22. ─ Nós vos agradecemos por terdes de bom grado atendido ao nosso apelo.
─ Adeus. Não me vereis mais.
Morte de um Espírita
O Sr. J..., negociante do departamento
de La Sarthe, falecido a 15 de julho de 1859, era, sob todos os pontos
de vista, um homem de bem e de uma caridade sem limites. Tinha feito um
estudo sério do Espiritismo e era um de seus fervorosos adeptos. Como
assinante da Revista Espírita, estava em contato indireto conosco, sem
que nos tivéssemos visto. Evocando-o, temos como objetivo não só
corresponder ao desejo de seus parentes e amigos, como de lhe dar
pessoalmente um testemunho de nossa simpatia e agradecer-lhe as
gentilezas que ele dizia e pensava a nosso respeito. Além disso, era
para nós motivo de estudo interessante, do ponto de vista da influência
que pode ter o conhecimento aprofundado do Espiritismo sobre o estado da
alma depois da morte.
1. ─ (Evocação).
─ Aqui estou há muito tempo.
2. ─ Jamais tive o prazer de ver-vos. Não obstante, vós me reconheceis?
─
Reconheço-vos muito bem, visto que frequentemente vos visitei e tive
mais de uma conversa convosco, como Espírito, durante a minha vida.
OBSERVAÇÃO:
Isto confirma o fato muito importante, do qual temos numerosos
exemplos, das comunicações que entre si têm os homens, sem o saberem,
durante a vida. Assim, durante o sono do corpo, os Espíritos viajam e se
visitam reciprocamente. Despertando, conservam intuição das ideias que
adquiriram nessas conversas ocultas, e cuja fonte ignoram. Desta
maneira, temos durante a vida uma existência dupla: a corporal, que nos
dá a vida de relação exterior, e a espírita, que nos dá a vida de
relação oculta.
3. ─ Sois mais feliz do que na Terra?
─ E sois vós que me perguntais?
4.
─ Compreendo. Entretanto, desfrutáveis de uma fortuna honradamente
adquirida, que vos proporcionava os prazeres da vida. Tínheis a estima e
a consideração granjeadas pela vossa bondade e vossa beneficência.
Poderíeis dizernos em que consiste a superioridade de vossa felicidade
atual?
─ Consiste naturalmente na satisfação que me proporciona a
lembrança do pouco bem que fiz, e na certeza do futuro que ele me
promete. Além disso, não levais em conta a ausência das inquietudes e
dificuldades da vida; dos sofrimentos corporais e de todos esses
tormentos que nós criamos para satisfazer às necessidades do corpo?
Durante a vida, a agitação, a ansiedade, as angústias incessantes, mesmo
em meio à fortuna. Aqui a tranquilidade e o repouso. É a calma depois
da tempestade.
5. ─ Seis semanas antes de morrer, dizíeis ter ainda
que viver cinco anos. De onde vinha essa ilusão, quando tantas pessoas
pressentem a morte próxima?
─ Um Espírito benevolente queria afastar
da minha mente esse momento que, sem o confessar, eu tinha a fraqueza de
temer, embora soubesse do futuro do Espírito.
6. ─ Havíeis
mergulhado profundamente na ciência espírita. Poderíeis dizer-nos se, ao
entrar no mundo dos Espíritos, encontrastes as coisas como as
imagináveis?
─ Quase exatamente iguais, exceto por algumas questões de detalhes que eu havia compreendido mal.
7. ─ A leitura atenta que fazíeis da Revista Espírita e do Livro dos Espíritos vos ajudaram bastante nisso?
─ Incontestavelmente. Foi isso principalmente o que preparou a minha entrada na verdadeira vida.
8. ─ Sentistes algum espanto quando vos encontrastes no mundo dos Espíritos?
─
Impossível que fosse de outro modo. Contudo, espanto não é bem o termo.
Melhor seria dizer admiração. Estais muito longe de conceber uma ideia
do que significa isto!
OBSERVAÇÃO: Aquele que antes de mudar-se para
uma região a estudou nos livros; identificou-se com os costumes dos seus
habitantes; verificou sua topologia e seu aspecto por meio de desenhos,
de plantas e de descrições, fica sem dúvida menos
surpreso do que
outro que não tem nenhuma ideia disso. Entretanto, a realidade lhe
mostra uma porção de detalhes que não tinha previsto e que o
impressionam. Devese dar o mesmo no mundo dos Espíritos, cujas
maravilhas não podemos compreender totalmente, porque há coisas que
ultrapassam o nosso entendimento.
9. ─ Deixando o corpo, vistes e reconhecestes imediatamente alguns Espíritos junto a vós?
─ Sim, e Espíritos queridos.
10. ─ Que pensais agora do futuro do Espiritismo?
─ Um futuro mais belo do que pensais, apesar da vossa fé e do vosso desejo.
11.
─ Vossos conhecimentos relativos a assuntos espíritas sem dúvida vos
permitirão responder com precisão a algumas perguntas. Poderíeis
descrever claramente o que se passou convosco no momento em que o corpo
deu o último suspiro e o vosso Espírito se achou livre?
─
Pessoalmente, acho muito difícil encontrar um meio de vos explicar de
maneira diferente da que já foi feita, isto é, comparando a sensação que
a gente experimenta ao despertar de um sono profundo. Esse despertar é
mais ou menos lento e difícil, na razão direta da situação moral do
Espírito, e nunca deixa de ser fortemente influenciado pelas
circunstâncias que acompanham a morte.
OBSERVAÇÃO: Isto está de
acordo com todas as observações feitas sobre o estado do Espírito no
momento de separar-se do corpo. Vimos sempre as circunstâncias morais e
materiais que acompanham a morte reagirem poderosamente sobre o estado
do Espírito, nos primeiros momentos.
12. ─ Vosso Espírito conservou a
consciência de sua existência até o último momento e a recobrou
imediatamente? Houve um momento de falta de lucidez? Qual foi a sua
duração?
─ Houve um instante de perturbação, quase que imperceptível para mim.
13. ─ O momento de despertar teve algo de penoso?
─
Não, pelo contrário. Eu me sentia, se assim posso falar, alegre e
disposto, como se respirasse ar puro ao sair de uma sala cheia de
fumaça.
OBSERVAÇÃO: Comparação engenhosa, que só pode ser a pura expressão da verdade.
14. ─ Lembrai-vos da existência que tivestes antes desta que acabais de deixar? Como foi ela?
─
Lembro-me dela da melhor forma possível. Eu era um bom criado junto de
um bom senhor que, em companhia de outros, me recebeu, à minha entrada
neste mundo bem-aventurado.
15. ─ Creio que o vosso irmão se ocupa menos das questões espíritas do que vos ocupáveis.
─
Sim, eu farei alguma coisa para que ele tenha mais interesse, caso me
seja permitido. Se ele soubesse o que a gente ganha com isso, dar-lhe-ia
mais importância.
16. ─ O vosso irmão pediu ao Sr. D... que me
comunicasse a vossa morte. Ambos esperam ansiosos o resultado de nossa
conversa. Ficarão, entretanto, mais sensibilizados com uma mensagem
direta de vossa parte, se quiserdes confiar-me algumas palavras para
eles ou para outras pessoas que sentem a vossa falta.
─ Por vosso
intermédio dir-lhes-ei o que eu mesmo teria dito, mas receio muito não
ter mais influência junto a alguns deles, como outrora. Entretanto, em
meu nome e no de seus amigos, que bem vejo, concito-os a refletir e
estudar seriamente esta grave questão do Espiritismo, ainda que fosse
tão somente pelo auxílio que ela traz para passar este momento tão
temido pela maior parte das pessoas, e tão pouco temível para aquele que
se preparou previamente pelo estudo do futuro e pela prática
do bem.
Dizei-lhes que sempre estou com eles, em seu meio; que os vejo, e que
serei feliz se suas disposições lhes puderem assegurar, no mundo onde me
encontro, um lugar do qual não terão senão que se felicitarem. Dizei-o
sobretudo ao meu irmão,
cuja felicidade é o meu mais profundo desejo, do qual não me esqueço, embora eu seja mais feliz que ele.
17.
─ A simpatia que tivestes a bondade de me testemunhar em vida, mesmo
sem me conhecer, faz-me esperar que nos encontremos facilmente quando eu
estiver em vosso meio. Até lá, serei feliz se quiserdes assistir-me nos
trabalhos que me resta fazer para concluir a minha tarefa.
─
Julgais-me com muita benevolência. Não obstante, convencei-vos de que,
se vos puder ser de alguma utilidade, não deixarei de fazê-lo, talvez
mesmo sem que o suspeiteis.
18. ─ Agradecemos por terdes gentilmente atendido ao nosso apelo, e pelas instrutivas explicações que nos destes.
─ À vossa disposição. Estarei muitas vezes convosco.
OBSERVAÇÃO:
Esta comunicação é incontestavelmente uma das que descrevem a vida
espírita com a maior clareza. Oferece um poderoso ensino relativamente à
influência que as ideias espíritas exercem sobre o nosso estado depois
da morte.
Esta conversa parece haver deixado algo a desejar ao amigo
que nos participou a morte do Sr. J..., pois nos disse: “Ele não
conservou na linguagem o cunho de originalidade que tinha conosco.
Manteve uma reserva que não observava com pessoa alguma. Seu estilo
incorreto, brusco, revelava inspiração; ousava tudo; vencia quem quer
que formulasse uma objeção às suas crenças; reduzia-nos a nada para nos
converter. Em seu perfil psicológico não revela nenhuma particularidade
das numerosas relações que tinha com uma porção de pessoas que
frequentava. Todos nós gostaríamos de nos vermos citados por ele, não
para satisfazer nossa curiosidade, mas para nossa instrução. Gostaríamos
que nos tivesse falado claramente de algumas ideias por nós emitidas em
sua presença, nas nossas conversas. A mim, pessoalmente, poderia ter
dito se eu tinha ou não tinha razão de insistir em tal ou qual
consideração; se aquilo que eu lhe havia dito era verdadeiro ou falso.
Absolutamente não falou de sua irmã, ainda viva e tão digna de
interesse”.
Depois desta carta evocamos novamente o Sr. J..., e lhe dirigimos as perguntas seguintes:
19. ─ Tendes conhecimento da carta que recebi em resposta à remessa da vossa evocação?
─ Sim, vi quando a escreviam.
20.
─ Teríeis a bondade de dar algumas explicações sobre certas passagens
dessa carta e, como bem compreendeis, com um fim instrutivo, unicamente
para me fornecer elementos para uma resposta?
─ Se o considerais útil, sim.
21.
─ Acham estranho que a vossa linguagem não tenha conservado o cunho da
originalidade. Parece que em vida éreis esmagador na discussão.
─ Sim, mas o Céu e a Terra são muito diferentes e aqui eu encontrei mestres.
Que
quereis? Eles me impacientavam com suas objeções absurdas. Eu lhes
mostrava o Sol e não queriam vê-lo. Como conservar o sangue frio? Aqui
não há necessidade de discutir; todos nos entendemos.
22. ─ Esses senhores admiram-se de que não os tenhais interpelado nominalmente para refutá-los, como fazíeis em vida.
─
Que se admirem! Eu os espero. Quando vierem juntar-se a mim, verão qual
de nós está com a razão. Será preciso que venham para este lado, quer
queiram, quer não queiram, e uns mais cedo do que pensam. Sua jactância
cairá como a poeira abatida pela chuva. Sua bazófia... (Aqui o Espírito
para e se recusa a concluir a frase).
23. ─ Eles inferem que não lhes demonstrais todo o interesse que tinham direito a esperar de vós.
─ Eu lhes desejo o bem, mas nada farei contra sua própria vontade.
24. ─ Também se admiram de que nada tenhais dito relativamente à vossa irmã.
─ Por acaso eles estão entre mim e ela?
25.
─ O Sr. B... gostaria que tivésseis dito algo que vos contou na
intimidade. Para ele e para outros, isto teria sido um meio de
esclarecimento.
─ Qual a vantagem de repetir o que ele sabe? Pensa
que não tenho outra coisa a fazer? Não têm eles os mesmos meios de
esclarecimento que eu tive? Que os aproveitem. Garanto-lhes que se
sentirão bem. Quanto a mim, dou graças aos céus por me haverem enviado a
luz que me franqueou o caminho da felicidade.
26. ─ Mas é esta luz que eles desejam e que seriam felizes se a recebessem de vós.
─ A luz brilha para todo mundo. Cego é aquele que não quer ver. Esse cairá no precipício e amaldiçoará a sua cegueira.
27. ─ Vossa linguagem me parece marcada por grande severidade.
─ Não me acharam eles muito brando?
28. ─ Nós vos agradecemos por terdes vindo e pelos esclarecimentos que nos destes.
─ Sempre ao vosso serviço, pois sei que é para o bem.