Boletim - Da sociedade pariense de estudos espíritas
NOTA: Conforme anunciamos, a partir de hoje publicaremos o Boletim dos trabalhos da Sociedade. Cada número conterá o relato das sessões do mês anterior.
Esses boletins darão apenas um ligeiro resumo dos trabalhos e da ata de cada sessão.
Quanto às próprias comunicações nelas obtidas, bem como as de fonte estranha que forem lidas, sempre as publicamos integralmente, desde que ofereçam algo de útil e instrutivo. Continuaremos a fazê-lo, lembrando, como fizemos até agora, a data das sessões em que foram dadas. A abundância de matérias e a necessidade de classificação por vezes obrigam a inverter a ordem de certos documentos. Isto, porém, não tem importância, porque mais cedo ou mais tarde eles encontrarão o seu lugar.
Sexta-feira, 1o de julho de 1859 [Sessão Particular]
Assuntos administrativos – Admissão do Sr. S..., membro
correspondente em Bordeaux.
Adiamento, até mais amplas informações, do ingresso
de dois membros titulares apresentados nos dias 10 e 17 de junho.
Designação de três novos comissários para as sessões gerais.
Leitura da ata e dos trabalhos da última sessão.
Comunicações – O Sr. Allan Kardec anuncia que esteve
com o Sr. W... Filho, de Boulogne-sur-Mer, citado na Revista de
dezembro de 1858 a propósito de um artigo sobre o fenômeno da
bicorporeidade, o qual lhe confirmou o fato de sua presença
simultânea em Boulogne e em Londres.
Carta do Sr. S..., correspondente em Bordeaux,
contendo detalhes minuciosos sobre interessantes manifestações e
aparições de seu conhecimento pessoal, por parte de um Espírito
familiar. (Carta publicada neste fascículo, bem como a evocação
feita sobre o assunto.)
O Dr. Morhéry presenteia a Sociedade com duas
cantatas, de cuja letra é autor, intituladas
Itália e Veneziana. Embora
essas duas produções sejam completamente estranhas aos trabalhos
da Sociedade, ela os aceita com reconhecimento e agradece ao
autor.
O Sr. Th... observa, a propósito da comunicação de
Cristóvão Colombo, obtida na última sessão, que as respostas
deste, relativas à sua e à missão dos Espíritos em geral, parecem
consagrar a doutrina da fatalidade.
Vários membros contestaram esta conseqüência das
respostas de Cristóvão Colombo, considerando-se que a missão
não retira a liberdade de fazer ou deixar de fazer. O homem não é
fatalmente impelido a fazer tal ou qual coisa. Pode acontecer que,
como homem, se comporte mais ou menos cegamente; como
Espírito, porém, tem sempre a consciência do que faz e permanece
sempre senhor de suas ações. Supondo que o princípio da
fatalidade decorresse das respostas de Colombo, não seria a
consagração de um princípio que, em todos os tempos, tem sido
combatido pelos Espíritos. Em todo caso, seria apenas uma opinião
individual. Ora, a Sociedade está longe de aceitar como verdade
irrefutável tudo quanto dizem os Espíritos, porque sabe que eles
podem enganar-se. Um Espírito poderia dizer muito bem que é o
Sol que gira em redor da Terra, e não o contrário, o que não seria
mais verdadeiro pelo fato de proceder de um Espírito. Tomamos as
respostas pelo que elas valem. Nosso objetivo é estudar as
individualidades, seja qual for o seu grau de superioridade ou de
inferioridade, e assim adquirimos o conhecimento do estado moral
do mundo invisível, não emprestando nossa confiança às doutrinas
dos Espíritos senão quando elas tocam a razão e o bom-senso, e
quando nelas encontramos a verdadeira luz. Quando uma resposta
contém erros evidentes, ou é ilógica, concluímos simplesmente que
o Espírito que a deu ainda se encontra atrasado. Quanto às
respostas de Colombo, de modo algum implicam a fatalidade.
Estudos – Perguntas sobre as causas do prolongamento
da perturbação do Dr. Glower, evocado a dez de junho.
Perguntas sobre as causas da sensação física dolorosa
produzida sobre o Sr. W... Filho, de Bolulogne, pelos Espíritos
sofredores.
Perguntas sobre a teoria da formação dos objetos
materiais no mundo dos Espíritos, tais como vestimentas, jóias,
etc.; sobre a transformação da matéria elementar pela vontade do
Espírito. Explicação do fenômeno da escrita direta (Ver nosso
artigo precedente)
Evocação de um oficial superior falecido em Magenta
(2a conversa); Perguntas sobre certas sensações de além-túmulo.
Propõe o Sr. S... que se evoque o Sr. M..., desaparecido
há um mês, a fim de saber se está vivo ou morto. Interrogado a
respeito, São Luís diz que tal evocação não pode ser feita; que a
incerteza reinante sobre a sorte desse homem tem um objetivo de
prova e que mais tarde se saberá, pelos meios ordinários, o que de
fato aconteceu.
Sexta-feira, 8 de julho de 1859 – [Sessão geral]
Leitura da ata e dos trabalhos da sessão anterior.
Comunicações – Leitura de duas comunicações
espontâneas obtidas pelo Sr. R..., membro titular, sendo uma de
São Luís, encerrando conselhos à Sociedade sobre o modo de
apreciar as respostas dos Espíritos, e a outra de Lamennais. (Serão
publicadas no próximo número.)
Leitura de uma notícia sobre o diácono Pâris e os
convulsionários de Saint-Médard, preparada pelo comitê dos
trabalhos para servir de objeto de estudo.
O Sr. Didier, membro titular, presta conta das curiosas
experiências por ele feitas sobre a escrita direta e os notáveis
resultados que obteve.
Estudos – Evocação do guia ou Espírito familiar da Sra.
Mally, de Bordeaux, a propósito da notícia transmitida pelo Sr. S...,
sobre os fatos de manifestação produzidos na casa dessa senhora e
lidos na sessão anterior.
Evocação do Sr. K..., morto a 15 de junho de 1859 no
Departamento de Sarthe. O Sr. K..., homem de bem e muito
esclarecido, era versado em estudos espíritas e sua evocação,
realizada a pedido de parentes e amigos, constatou a influência de
tais estudos sobre o estado de desprendimento da alma após a
morte. Além disso, revelou espontaneamente o importante fato das
visitas espíritas noturnas entre Espíritos de pessoas vivas. Deste fato
decorrem graves conseqüências para a solução de certos problemas
morais e psicológicos.
Sexta-feira, 15 de julho de 1859 – [Sessão particular]
Leitura da ata e dos trabalhos da sessão anterior.
Assuntos administrativos – A pedido de vários membros,
e considerando que muitas pessoas estão ausentes nesta
temporada, propõe o Presidente que, de acordo com o uso
estabelecido em todas as Sociedades, seja fixado um período de
férias.
A Sociedade decide que suspenderá suas sessões du-
rante o mês de agosto e que as retomará sexta-feira, 2 de setembro.
O Sr. C..., secretário-adjunto, escreve para pedir a sua
substituição, motivada por novas ocupações que não lhe permitem
assistir regularmente ao começo das sessões. Sua substituição será
providenciada mais tarde.
Comunicações – Leitura de uma carta do Sr. Jobard, de
Bruxelas, presidente honorário da Sociedade, dando conta de
vários fatos relativos ao Espiritismo e oferecendo à Sociedade uma
canção, intitulada
O Canto do Zuavo, que lhe foi inspirada pela
evocação do
Zuavo de Magenta, referido na Revista do mês de julho;
ela já foi cantada num teatro de Bruxelas. O fim dessa canção, na
qual sobressai a verve espiritual do autor, é mostrar que as idéias
espíritas têm por objetivo destruir as apreensões da morte.
O Sr. D... relata novos fatos de escrita direta, por ele
obtidos no Louvre e na igreja de Saint-Germain l’Auxerrois.
Leitura de uma carta endereçada ao sr. presidente, a
propósito do temporal de Solferino. O autor assinala vários outros
fatos análogos e indaga se não haveria algo de providencial nessa
coincidência. Essa questão já foi respondida na segunda conversa
com o oficial morto em Magenta; será, aliás, objeto de exame mais
aprofundado.
Carta da Sra. L..., relatando uma mistificação de que foi
vítima, por parte de um Espírito malévolo, que dizia ser São
Vicente de Paulo e que a enganou através de uma linguagem
aparentemente edificante e por detalhes minuciosos que revelou a
respeito de sua família, para, em seguida, induzi-la a enveredar por
caminhos comprometedores. Reconhece a Sociedade, por
intermédio da própria carta, que tal Espírito havia revelado sua
natureza por certos fatos que não dariam margem a qualquer
equívoco.
Estudos – Problemas morais e questões diversas: Sobre
o mérito das boas ações, tendo em vista a vida futura; sobre as
missões espíritas; sobre a influência do medo ou do desejo de
morrer; sobre os médiuns intuitivos.
Perguntas sobre as visitas espíritas entre pessoas vivas.
Evocação do diácono Pâris.
Evocação do falso São Vicente de Paulo, Espírito
mistificador da Sra. L...
Sexta-feira, 22 de julho de 1859 – [Sessão geral]
Leitura da ata e dos trabalhos da última sessão.
Comunicações – Leitura de uma comunicação particular
do Sr. R..., membro titular, sobre a teoria da loucura, dos sonhos,
das alucinações e do sonambulismo, pelos Espíritos de François
Arago e São Vicente de Paulo. Essa teoria é um desenvolvimento
racional e científico dos princípios já emitidos sobre esta matéria.
(Será publicada no próximo número.)
O Sr. R... comunica um fato recente de aparição. No dia
16 de julho, sábado, dia do enterro do Sr. Furne, este apareceu
durante a noite à esposa do primeiro com o aspecto que tinha em
vida, procurando aproximar-se dela enquanto outro Espírito, cujo
semblante não pôde distinguir, o segurava pelo braço e procurava
afastá-lo. Sensibilizada por essa aparição, tratou de cobrir os olhos
sem que, todavia, deixasse de vê-lo como antes. No dia seguinte
essa senhora, que, como o marido, é médium escrevente, pôs-se a
traçar convulsivamente caracteres irregulares que pareciam formar
o nome de Furne. Interrogado sobre o fato, outro Espírito
respondeu que, realmente, o Sr. Furne queria comunicar-se com
eles, mas em razão do estado de perturbação em que ainda se
achava, mal se reconhecendo, acrescentou ser necessário esperar
cerca de oito dias para ser evocado, a fim de que pudesse
manifestar-se livremente.
O Dr. V... faz referência a um fato de previsão espírita,
realizado em sua presença, e tanto mais notável quando sabemos
que a previsão de datas é muito rara por parte dos Espíritos. Há seis
semanas aproximadamente, uma senhora de seu conhecimento,
excelente médium de psicografia, recebeu uma comunicação do
Espírito de seu pai; de repente e sem provocação, este último pôs-
se a falar espontaneamente da guerra da Itália. A propósito,
perguntaram-lhe se ela acabaria logo. Ele respondeu: “No dia
11 de
julho a paz será assinada
.” Sem ligar maior importância a essa
previsão, o Dr. V... guardou a resposta num envelope lacrado e o
remeteu a uma terceira pessoa, com a recomendação de somente
abri-lo após o dia 11 de julho. Sabe-se que o acontecimento se
realizou como fora anunciado.
É interessante notar que os Espíritos, quando falam de
coisas futuras, o fazem espontaneamente, sem dúvida porque
julgam de utilidade fazê-lo. Entretanto, jamais o fazem quando a
isso são impelidos por um motivo de curiosidade.
Estudos – Problemas morais e questões diversas.
Perguntas complementares sobre o mérito das boas ações; sobre as
visitas espíritas; sobre a escrita direta.
Questões sobre a intervenção dos Espíritos nos
fenômenos da Natureza, como tempestades, e sobre as atribuições
de certos Espíritos.
Perguntas complementares sobre o diácono Pâris e os
convulsionários de Saint-Médard. Evocação do general Hoche.