22.
A crença na eternidade das penas materiais permaneceu como uma crença
salutar até que os homens estivessem aptos a compreender o poder moral.
Tal como as crianças que se contêm durante um tempo pela ameaça de
certos seres quiméricos com a ajuda dos quais as assustam; mas chega um
momento em que a razão da criança lhe mostra a verdade dos contos com
que a embalavam, e em que seria absurdo pretender governá-la pelos
mesmos meios. Se aqueles que a dirigem persistissem em afirmar-lhe que
essas fábulas são verdades que é preciso tomar ao pé da letra, perderiam
sua confiança.
O mesmo ocorre hoje com a humanidade; ela saiu da
infância e não se deixa mais levar pela mão. O homem não é mais aquele
instrumento passivo que se dobrava à força material, nem aquele ser
crédulo que aceitava tudo de olhos fechados.