2. Mas a noção do purgatório devia necessariamente ser incompleta; é por
isso que, conhecendo somente a pena do fogo, fez-se dele um diminutivo
do inferno; as almas também queimam aí, mas com um fogo menos intenso.
Sendo o progresso inconciliável com o dogma das penas eternas, as almas
não saem daí em consequência de seu avanço, mas pela virtude das preces
feitas ou que se mandam fazer por elas. Se o pensamento inicial foi bom,
não acontece o mesmo com as suas consequências, pelos abusos que
originou. Por meio de preces pagas, o purgatório se tornou uma mina mais
produtiva do que o inferno.*
* O purgatório deu origem ao comércio escandaloso das indulgências, com o auxílio das quais
se vendia a entrada no céu. Esse abuso foi a primeira causa da Reforma, e foi o que fez Lutero
rejeitar o purgatório.