Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1868

Allan Kardec

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Bibliografia

O Espiritismo na bíblia



Ensaio sobre à psicologia dos antigos hebreus (Por Henri Stecki) [1]



Sabe-se que a Bíblia contém uma porção de passagens em relação com os princípios do Espiritismo. Mas como encontrá-las nesse labirinto? Seria necessário fazer desse livro uma leitura atenta, o que pouca gente tem tempo e paciência para fazer. Nalgumas mesmo, sobretudo em razão da linguagem o mais das vezes figurada, a ideia espírita só aparece de maneira clara após reflexão.

O autor desse livro fez da Bíblia um estudo aprofundado, e só o conhecimento que ele tem do Espiritismo lhe deu a chave de coisas que lhe pareciam antes inexplicáveis ou ininteligíveis. Foi assim que ele pôde informar-se com certeza sobre as ideias psicológicas dos antigos hebreus, ponto sobre o qual os comentadores não estavam de acordo. Devemos, pois, ser-lhe gratos por ter trazido essas passagens à luz, num resumo sucinto, e também por ter poupado ao leitor pesquisas longas e fastidiosas. Às citações ele acrescenta comentários necessários à compreensão do texto, e que revelam nele o espírita esclarecido, mas não fanático por suas ideias, e que vê Espiritismo em tudo.

O nome do autor indica que ele não é francês. Ele diz, no prefácio, que é polonês, e explica em que circunstâncias foi levado ao Espiritismo e os socorros morais que colheu nesta doutrina. Embora estrangeiro, ele escreve o francês, como aliás a maioria dos povos do Norte, principalmente os poloneses e os russos, com perfeita pureza. Seu livro é escrito com clareza, o que é um grande mérito em matérias filosóficas, porque nada é menos próprio à vulgarização das ideias que um autor quer propagar, do que esses livros cuja leitura fatiga a ponto de dar dor de cabeça, e cujas proposições são uma série de enigmas indecifráveis para o comum dos leitores.

Em resumo, o Sr. Stecki fez um livro útil, e todos os espíritas lhe serão agradecidos.

Agradecemos pessoalmente a epístola dedicatória que ele teve a bondade de colocar no topo de sua obra.


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[1] Pequeno volume in-12; preço l franco; pelo correio, l,25 franco. Lacroix & Cie e Livraria Internacional, Boulevard Montmartre, 15 - Paris; e no escritório da Revista Espírita.



O Espiritismo em Lyon



Esse jornal, que está sendo editado desde 15 de fevereiro, e do qual falamos várias vezes, prossegue a sua rota com sucesso, graças ao zelo e ao devotamento de seus diretores. Sua obra é tanto mais meritória porque, sendo noviços no que concerne à manutenção de um jornal, eles tiveram que lutar contra as dificuldades da inexperiência. Mas é forjando que se faz o ferreiro. Assim, seguimos com um vivo interesse os progressos desse jornal, que ganhou consideravelmente, desde a sua origem, pela forma e pelo fundo. Nós o felicitaríamos pelo espírito de tolerância e de moderação do qual ele fez lei, se esta não fosse uma das qualidades sem as quais não se poderia dizer verdadeiramente espírita, e uma consequência da máxima que ele toma como divisa: Fora da caridade não há salvação. Assim, fazemos votos sinceros por sua prosperidade.

O último número, de 15 de outubro, contém vários artigos muito interessantes, sobre os quais chamamos a atenção dos nossos leitores.


Os destinos da alma



Com considerações proféticas para reconhecer o tempo presente e os sinais da aproximação dos últimos dias; nova edição, precedida de um apelo aos católicos de boa-fé e ao futuro concílio.

POR A. D’ORIENT[1].

Nessa obra de importância capital, o autor se apoia na pluralidade das existências, como a teoria mais racional sobre o progresso indefinido da alma pelo trabalho realizado nas existências sucessivas; a responsabilidade de cada um conforme as suas obras; a não-eternidade absoluta das penas; o corpo fluídico, etc., numa palavra, sobre os princípios que formam a base do Espiritismo. Entretanto, ela foi publicada em 1845, nova prova do movimento que já se operava nesse sentido, mesmo antes do aparecimento da Doutrina Espírita, que veio sancionar pelos fatos e coordenar estas ideias esparsas. O autor se lisonjeava de a isto ligar o clero, respeitando os dogmas católicos, mas interpretando-os de maneira mais lógica. Sua esperança foi ilusória, porque o seu livro foi posto no índex. Limitamo-nos a anunciá-lo, comprometendo-nos a consagrar-lhe um artigo especial, quando tivermos tido tempo de examiná-lo a fundo.

Enquanto isto, citaremos o parágrafo seguinte, da introdução, que especifica o objetivo a que se propôs o autor:

“Ressurreição dos corpos, presciência de Deus, vidas sucessivas ou purgatório das almas, tais são as três questões nas quais tudo o que se liga aos destinos de nossa alma se articula, que nos propomos apresentar, sob nova prisma, à meditação dos católicos e de todos os homens que gostam de refletir sobre si mesmos. O que temos a dizer não toca nas verdades essenciais que a todo o gênero humano importa conhecer e crer com inteira certeza: essas verdades, que são do domínio da fé, são tão completas e asseguradas quanto é necessário que o sejam, e não temos a pretensão de nada ajuntar de nós mesmo. Não queremos senão propor humanamente, sobre essas matérias, teorias humanas, que é permitido ignorar ou não crer sem prejuízo para a sua alma. Todos os nossos esforços não têm outro fim senão aclarar o facho da ciência dos fatos obscuros, onde as luzes da revelação faltam, e que a fé não definiu completamente.”



[1] Grosso volume grande in-8. Preço: 7,50 francos. Didier & Cie., Quai des Augustins, 35 e Ad. Lainé, Rua des Saints-Pères, 19.


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