Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1861

Allan Kardec

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Sra. Ananys Gourdon

Jovem senhora, notável pela doçura de caráter e pelas qualidades morais mais eminentes, falecida em novembro de 1860. Evocada a pedido de seu pai e de seu marido. Pertencia a uma família de trabalhadores nas minas de carvão nas proximidades de Saint-Étienne, circunstância importante para apreciar a sua evocação.

1. (Evocação).

─ Eis-me aqui.

2. ─ Vosso pai e vosso marido me pediram que vos chamasse e sentir-se-ão felizes por ter a vossa comunicação.

─ Também estou muito feliz em comunicar-me com eles.

3. ─ Por que fostes levada tão cedo da afeição de vossa família?

─ Porque eu terminava minhas provas terrenas.

4. ─ Ides vê-los algumas vezes?

─ Oh! Estou incessantemente junto a eles.

5. ─ Sois feliz como Espírito?

─ Sou feliz, espero, atendo, amo. O Céu não me causa terror e espero confiante e com amor que as asas brancas me cresçam.

6. ─ Que entendeis por estas asas?

─ Entendo tornar-me puro Espírito e brilhar como os mensageiros celestes que me deslumbram.

OBSERVAÇÃO: As asas dos anjos, arcanjos e serafins, que são puros Espíritos, evidentemente não passam de atributo imaginado pelos homens para pintar a rapidez com que se transportam, pois a sua natureza etérea os dispensa de qualquer sustentáculo para percorrerem os espaços. Contudo, podem aparecer aos homens com esse acessório, para responder ao seu pensamento, como outros Espíritos tomam a aparência que tinham na Terra, para se tornarem conhecidos.

7. ─ Vedes vosso cunhado, falecido há algum tempo e que evocamos no ano passado?

─ Eu o vi quando cheguei entre os Espíritos. Agora não o vejo mais.

8. ─ Por que não o vedes mais?

─ Nada sei a respeito.

9. ─ Vossos parentes podem fazer algo que vos seja agradável?

─ Podem, esses entes queridos, não mais me entristecer, à vista de seus pesares, pois sabem que não estou perdida para eles. Que minha lembrança lhes seja suave, leve e perfumada em sua memória. Passei como uma flor e nada de triste deve subsistir de minha rápida passagem.

10. ─ De onde vem vossa linguagem tão poética e tão pouco condizente com a posição que tínheis na Terra?

─ É porque minh’alma é que fala. Sim, eu tinha conhecimentos adquiridos e muitas vezes Deus permite que Espíritos delicados se encarnem entre os mais rudes homens, para lhes fazer pressentir as delicadezas que conquistarão e compreenderão mais tarde.

OBSERVAÇÃO: Sem esta explicação tão lógica e tão conforme à solicitude de Deus por suas criaturas, dificilmente nos daríamos conta do que, à primeira vista, poderia parecer uma anomalia. Com efeito, que de mais gracioso e mais poético que a linguagem do Espírito dessa jovem senhora, educada em meio aos mais rudes trabalhos? A contrapartida se vê muitas vezes; são Espíritos inferiores, encarnados entre homens mais adiantados, mas com objetivo oposto; é em favor de seu próprio adiantamento que Deus os põe em contato com um mundo esclarecido, e algumas vezes, também, para servirem de prova a esse mesmo mundo. Que outra filosofia pode resolver tais problemas?

11. (Evocação do Sr. Gourdon, filho mais velho, já evocado em 1860).

─ Eis-me aqui.

12. ─ Lembrai-vos de que já fostes chamado por mim?

─ Sim, perfeitamente.

13. ─ Como é que vossa cunhada não vos vê mais?

─ Ela elevou-se.

OBSERVAÇÃO: A esta pergunta ela tinha respondido: “Nada sei a respeito”; sem dúvida por modéstia. Agora a coisa se explica: de uma natureza superior, ela pertence a uma ordem mais elevada, enquanto ele ainda está retido na Terra. Seguem caminhos diferentes.

14. ─ Quais foram as vossas ocupações desde aquela época?

─ Eu progredi na via dos conhecimentos, ouvindo as instruções de nossos guias.

15. ─ Por favor, peço-vos uma comunicação para vosso pai, que ficará feliz por isso.

─ Caro pai, não julgues perdidos os teus filhos e não sofras vendo vazios os seus lugares. Eu também espero e não tenho a menor impaciência, pois sei que os dias que se escoam são outros tantos degraus vencidos, que nos aproximam um do outro. Sê grave e recolhido, mas não triste, porque a tristeza é uma censura muda dirigida a Deus, que deseja ser louvado em suas obras. Aliás, por que sofrer nesta vida triste, onde tudo se apaga, salvo o bem ou o mal que realizamos? Caro pai, coragem e confiança!

OBSERVAÇÃO: A primeira evocação deste rapaz era marcada pelos mesmos sentimentos de piedade filial e de elevação. Tinha sido imensa consolação para os pais, que não podiam suportar a sua perda. Compreende-se que assim deveria ter sido com a da jovem senhora.

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