Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1865

Allan Kardec

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Um novo ovo de Saumur

Ao que parece, Saumur é fecunda em maravilhas ovíparas. Lembram-se que em setembro último, uma galinha, nativa dessa cidade e domiciliada na Rua da Visitation, punha ovos miraculosos, sobre cuja casca viam-se, em relevo, e claramente desenhados, objetos de santidade e inscrições. Isto fez grande sensação em certos meios, e excitou a veia trocista dos incrédulos.

O Echo Saumurois, entre outros, divertiu-se muito com o fato. A massa foi ao local; a autoridade comoveu-se e sugeriram que um policial vigiasse a galinha, para esperar o acontecimento.

Não repetiremos a espirituosa e não menos judiciosa explicação dada pelo Sauveur des Peuples, de Bordéus, de 18 de setembro de 1864, ao qual remetemos os leitores, para os detalhes circunstanciados do caso.

Há pouco tempo, um dos nossos assinantes de Saumur nos remeteu um outro ovo fenomenal, originário da mesma cidade, pedindo que examinássemos bem a bizarria que ele apresenta, embora não houvesse desenhos nem inscrições. Não que ele acreditasse num prodígio, mas, ao contrário, para ter nossa opinião, a fim de opôla às pessoas muito crédulas em matéria de milagres, porque parece que, continuando a série do que se havia passado, esse ovo tinha produzido, também, uma certa sensação no público. Não sabemos se é da mesma galinha. Trata-se do seguinte.

O ovo apresenta na ponta uma excrescência, em forma de cordão grosso, enrolado sobre si mesmo, da mesma natureza da casca, colado a ela em toda a sua extensão, que é de 6 a 7 centímetros. Basta conhecer a formação dos ovos para se dar conta desse fenômeno. Sabe-se que o ovo é formado de uma simples membrana semelhante a uma bacia, na qual se desenvolvem a clara e a gema, germe e alimento do futuro pinto. Alguns por vezes são postos nesse estado. Antes da postura, essa película se cobre de uma camada de carbonato de cálcio, que forma a casca. No caso de que se trata, não sendo o conteúdo suficiente para encher a membrana vesicular, resultou que a parte vazia, formando colo de bacia, ficou contraída, rebatendo-se e se enrodilhando sobre o próprio corpo do ovo. O depósito calcário, formado depois, endureceu o todo, o que deu lugar a essa excrescência anormal. Se toda a capacidade se tivesse enchido, o ovo teria sido monstruoso para um ovo de galinha, porque teria cerca de 10 centímetros em seu maior diâmetro, ao passo que ele tem uma grossura ordinária.

Que relação pode ter tudo isto com o Espiritismo? Absolutamente nenhuma. Se dele falamos, é porque seus detratores quiseram envolver seu nome no primeiro caso, não sabemos bem a que título, a não ser, segundo seu hábito, o de procurar todas as ocasiões de ridicularizá-lo, mesmo nas coisas que lhe são mais estranhas. Quisemos provar uma vez mais que os espíritas não são tão crédulos quanto o dizem. Se um fenômeno insólito se apresenta, eles procuram antes de tudo a explicação no mundo tangível, e não misturam os Espíritos em tudo quanto é extraordinário, porque sabem em que limites e segundo que leis sua ação se exerce.

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