Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1859

Allan Kardec

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Hitoti, chefe taitiano

Um oficial de marinha, presente à sessão da Sociedade no dia 4 de fevereiro último, mostrou desejos de evocar um chefe taitiano, chamado Hitoti, que conhecera pessoalmente, quando estivera na Oceania.

1. ─ (Evocação).
─ Que quereis?

2. ─ Poderíeis dizer-nos por que preferistes abraçar a causa francesa na Oceania?
─ Eu gostava dessa nação. Além disso, meu interesse a tanto me obrigava.

3. ─ Ficastes satisfeito com a viagem à França, que proporcionamos ao vosso neto e com os cuidados que lhe foram dispensados?
─ Sim e não. Talvez a viagem tenha aperfeiçoado bastante o seu espírito, mas isso tornou-o completamente alheio à sua pátria, porque lhe deu ideias que jamais deveriam ter brotado nele.

4. ─ Das recompensas recebidas do governo francês, quais as que mais vos satisfizeram?
─ As condecorações.

5. ─ E entre essas condecorações, qual a que preferis?
─ A Legião de Honra.

OBSERVAÇÃO: Esta circunstância era ignorada do médium e de todos os presentes. Foi confirmada pela pessoa que fez a evocação. Embora o médium empregado fosse intuitivo e não mecânico, como poderia ser a ele atribuído tal pensamento? Poder-se-ia admiti-lo em se tratando de uma pergunta banal, mas isto seria inadmissível quando se trata de um fato positivo, do qual ninguém lhe poderia ter dado uma ideia.

6. ─ Sois mais feliz agora do que quando vivo?
─ Sim, muito mais.

7. ─ Em que estado se encontra o vosso Espírito?
─ Errante, mas devo reencarnar brevemente.

8. ─ Quais as vossas ocupações nessa vida errante?
─ Instruir-me.

OBSERVAÇÃO: Esta resposta é quase geral por parte de todos os Espíritos errantes. Os mais adiantados moralmente acrescentam que se ocupam em fazer o bem e assistem aos que necessitam de seus conselhos.

9. ─ De que maneira vos instruís, já que não o fazeis do mesmo modo que quando estáveis vivo?
─ Trabalho meu Espírito e viajo. Compreendo que isto vos é pouco compreensível. Mais tarde vireis a sabê-lo.

10. ─ Quais as regiões que frequentais com melhor disposição?
─ Regiões? Eu não viajo pela vossa Terra, ficai bem certos. Subo e desço; vou para um lado e para o outro, moral e fisicamente. Vi e examinei com o maior cuidado mundos ao vosso nascente e ao vosso poente e que ainda se encontram em terríveis estados de barbárie e outros que estão imensamente acima de vós.

11. ─ Dissestes que em breve estaríeis encarnado. Sabeis em que mundo? -
─ Sim. Nele já estive muitas vezes.

12. ─ Podeis designá-lo?
─ Não.

13. ─ Por que em vossas viagens desprezais a Terra?
─ Porque a conheço.

14. ─ Embora não viajeis mais pela Terra, ainda pensais nalgumas pessoas a
quem amastes?
─ Pouco.

15. ─ Não vos preocupais mais com as pessoas que vos testemunharam
afeição?
─ Pouco.

16. ─ Recordai-vos delas?
─ Muito bem. Mas nós nos veremos novamente e então espero pagar tudo. Perguntam-me se não me preocupo com isto. Não, mas nem por isso me esqueço delas.

17. ─ Não revistes esse amigo ao qual pouco antes eu aludia e que, como vós, também está morto?
─ Sim, mas nós nos veremos mais materialmente. Encarnaremos na mesma esfera e nossas existências se tocarão.

18. ─ Somos gratos por terdes atendido ao nosso apelo.
─ Adeus. Trabalhai e pensai.

OBSERVAÇÃO: A pessoa que fez a evocação e que conhece os costumes desses povos declara que esta última frase está de acordo com os seus hábitos. Entre eles é uma expressão usual, de certo modo banal, e que o médium não poderia adivinhar. Reconhece igualmente que toda a conversa está em relação com o caráter do Espírito evocado e que sua identidade lhe é evidente.

A resposta à pergunta 17 oferece notável particularidade: encarnaremos na mesma esfera e nossas existências se tocarão. Está provado que os seres que se amaram se encontram no mundo dos Espíritos. Entretanto parece, de acordo com muitas respostas análogas, que podem seguir um ao outro em outras existências corporais. Aí, sem que disso se deem conta, as circunstâncias aproximam-nos, quer pelos laços de parentesco, quer pelas relações de amizade. Isto nos dá a razão de certas simpatias.

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