Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1863

Allan Kardec

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Percorria um leão seu imenso domínio,

Por mui nobre orgulho dominado,

Sem raiva devorando súditos às dúzias;

Bom príncipe, em suma, como havia jantado!

Mas não andava só, pois em volta da juba

Seguiam, diligentes, tigres, lobos, leopardos,

Panteras, javalis; mas dizem que as raposas

Fechavam, prudentemente, a retaguarda.

Certo dia, porém, o monarca

Assim falou à corte e aos labregos:

“Ilustres companheiros, de minha glória esteios,

Quadrúpedes submissos à minha nobre queixada,

Para me ouvir viestes todos a este sítio.

Escutai: Eu sou rei pela graça de Deus!

Poderia... Mas por que pensar em minha força?”

Depois o leão, à vontade,

Melhor do que faria um advogado

Ou procurador de muito crânio,

Falou de seus deveres e encargos do Estado,

Dos pastores, dos cães, da nova carta,

Do mal que dele dizem os tolos muitas vezes

E já mui comovido terminou deste jeito:

“Deixei meu palácio para vos dar um prazer;

Exponde vossos pesares; eu julgarei a causa.

Touros, carneiros, cabritos, contai com a bondade.

Eu espero.

Explicai-vos com toda liberdade.

Mas que! Nesta imensa assembleia,

Nem um só infeliz! Nenhuma queixa!...”

Um velho corvo o interrompeu,

E, livre, no ar respondeu:

“Pensas que estão contentes; seu silêncio te toca,

Grande rei!... é o terror que a todos fecha a boca”.

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