Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1863

Allan Kardec

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Tendo Moisés proibido evocar os mortos, é permitido fazê-lo?
(Bordeaux - Médium: Sra. Collignon)

NOTA: Esta comunicação foi dada num grupo espírita de Bordeaux, em resposta à pergunta acima. Antes de a conhecer, tínhamos escrito o artigo precedente, sobre o mesmo assunto. Apesar disto nós a publicamos, precisamente por causa da concordância das ideias. Muitas outras, em vários lugares, foram obtidas no mesmo sentido, o que prova o acordo dos Espíritos a este respeito. Esta objeção não sendo mais sustentável do que todas as que opõem às relações com os Espíritos, cairá por si.

Então, o homem é tão perfeito que julga inútil medir suas forças? E sua inteligência é tão desenvolvida que possa suportar toda a luz?

Quando Moisés trouxe aos hebreus uma lei que pudesse tirá-los do estado de escravização em que viviam e reavivar neles a lembrança de seu Deus, que haviam esquecido, foi obrigado a dosar a luz à capacidade de visão e a ciência à capacidade de entendimento deles.

Por que também não perguntais: Por que Jesus se permitiu refazer a lei?

Por que disse ele: “Moisés vos disse: Dente por dente, olho por olho, e eu vos digo: Fazei o bem aos que vos querem mal; bendizei aos que vos amaldiçoam; perdoai aos que vos perseguem.”

Por que disse Jesus: “Moisés disse: Aquele que quiser deixar sua mulher lhe dê carta de divórcio, mas eu vos digo: Não separeis o que Deus uniu.”

Por que? É que Jesus falava a Espíritos mais adiantados do que na encarnação em que estavam ao tempo de Moisés. É que é preciso adequar a lição à capacidade de compreensão do aluno. É que vós, que perguntais, que duvidais, ainda não chegastes ao ponto em que deveis estar e ainda não sabeis o que sabereis um dia.

Por quê? Mas, então, perguntai a Deus por que ele criou a erva do campo, da qual o homem civilizado chegou a fazer seu alimento; por que fez árvores que só deveriam crescer em certos climas, em certas latitudes, e que o homem conseguiu aclimatar por toda parte.

Moisés disse aos Hebreus: “Não evoqueis os mortos!” como se diz às crianças: “Não toqueis no fogo!”

Não foi a evocação que, pouco a pouco, tinha degenerado em idolatria entre os egípcios, os caldeus, os moabitas e todos os povos da Antiguidade? Eles não tinham tido a força de suportar a ciência, tinham-se queimado, e o Senhor tinha querido preservar alguns homens, a fim de que pudessem servir e perpetuar seu nome e sua fé.

Os homens eram pervertidos e dispostos a evocações perigosas. Moisés preveniu o mal. O progresso deveria ser feito entre os Espíritos, como entre os homens, mas a evocação ficou conhecida e praticada pelos príncipes da Igreja. A vaidade, o orgulho são tão velhos quanto a Humanidade, assim, os chefes da sinagoga usavam a evocação, e frequentemente usavam-na mal, por isso muitas vezes sobre eles abateu-se a cólera do Senhor.

Eis por que disse Moisés: “Não evoqueis os mortos.” Mas a própria proibição prova que a evocação era usual entre o povo, e foi ao povo que ele a proibiu.

Deixai, pois, que falem os que perguntam por quê. Abri-lhes a história do globo, que eles cobrem com seus passos miúdos, e perguntai-lhes por que, após tantos séculos acumulados, eles marcam passos para avançar tão pouco? É que sua inteligência não está bastante desenvolvida; é que a rotina os constringe; é que eles querem fechar os olhos malgrado os esforços feitos para lhos abrir.

Perguntai-lhes: Por que Deus é Deus? Por que o Sol os ilumina?

Que estudem, que busquem, e na história da Antiguidade verão por que Deus quis que tal conhecimento em parte desaparecesse, para reviver com mais brilho, quando os Espíritos encarregados de trazê-lo tivessem mais força e não vergassem ao seu peso.

Não vos inquieteis, meus amigos, com as perguntas ociosas, com as objeções sem nexo que vos fazem. Fazei sempre o que acabais de fazer: perguntai, e nós vos responderemos com prazer. A ciência é de quem a busca; então, ela vem se mostrar. A luz ilumina os que abrem os olhos, mas as trevas se adensam para os que querem fechá-los. Não é aos que perguntam que se há de recusar, mas aos que fazem objeções com o fito único de extinguir a luz ou que não ousam fitá-la.

Coragem, meus amigos! Estamos prontos para vos responder todas as vezes que forem necessárias.

SIMEÃO, por MATEUS

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