Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1863

Allan Kardec

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(Sétif, Agélia, 15 de outubro de 1863)

Abri as escrituras sagradas e a cada página encontrareis predições ou alegorias incompreensíveis para quem quer que não esteja ao corrente das relações novas e que, para a maioria, foram interpretadas pelos comentadores em conformidade com a sua opinião e muitas vezes ao seu interesse. Mas, tomando como guia a ciência que começastes a adquirir, podereis facilmente descobrir o sentido oculto que elas encerram.

Os antigos profetas eram todos inspirados por Espíritos elevados, mas que não lhes davam, em suas revelações, senão ensinamentos de natureza a não serem compreendidos senão por inteligências de escol, e cujo sentido não estivesse em oposição muito patente com o estado dos conhecimentos e dos preconceitos daquela época. Era preciso que fosse possível interpretá-los de maneira adequada à compreensão das massas, para que estas não as rejeitassem, como não teriam deixado de fazer, se essas predições estivessem em oposição muito formal com as ideias gerais.

Hoje o nosso cuidado deve ser de vos esclarecer completamente e, ao mesmo tempo, vos fazer compreender as aproximações existentes entre as nossas revelações e as dos Antigos. Nós temos outra tarefa a desempenhar, a de combater a mentira, a hipocrisia e o erro, tarefa muito difícil e muito árdua, mas cujo fim alcançaremos, pois tal é a vontade de Deus.

Tende fé e coragem. Jamais Deus encontra um obstáculo irresistível à sua vontade. Meios imprevistos serão empregados, por suas ordens, para vencer o gênio do mal, personificado agora pelos que deveriam marchar à frente do progresso e propagar a verdade, em vez de a ela pôr entraves pelo orgulho ou pelo interesse.

É preciso, pois, anunciar por toda parte, com confiança e segurança, o fim próximo da escravidão, da injustiça e da mentira. Digo o fim próximo, porque os acontecimentos, posto devendo realizar-se com a sábia lentidão que a Providência traz em suas reformas, para evitar as desgraças inseparáveis de uma grande precipitação, terão seu curso num espaço de tempo menor do que o esperam os que se amedrontam com os obstáculos que preveem, e que não o esperam também os que, por medo ou egoísmo, estão interessados na manutenção indefinida do estado de coisas.

Sede, pois, ardentes na propaganda, mas prudentes ante os ouvintes, para não apavorar as consciências timoratas e ignorantes. Só os egoístas não exigem qualquer habilidade e não vos devem meter medo. Tendes a ajuda de Deus. Sua resistência será impotente contra vós. É preciso lhes mostrar sem equívoco o futuro terrível que os espera, por sua própria causa e por causa dos que se deixarem perverter por seu exemplo, pois cada um é responsável pelo mal que faz e por aquele de que for causa.

SANTO AGOSTINHO

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