Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1863

Allan Kardec

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(Grupo espíritas de Sétif, Argélia)

Muitas vezes vos admirais ao ver faculdades mediúnicas, físicas ou morais que em vossa opinião deveriam ser prova de mérito pessoal, em criaturas que, pelo caráter moral, estão colocadas abaixo de semelhante favor. Isto se deve à falsa ideia que fazeis das leis que regem tais coisas, e que quereis considerar como invariáveis. O que é invariável é o objetivo. Os meios variam ao infinito, para que seja respeitada a vossa liberdade. Este possui uma faculdade; aquele, outra; um é levado pelo orgulho, outro pela cupidez, e um terceiro pela fraternidade. Deus emprega as faculdades e as paixões de cada um, utiliza-as em suas esferas respectivas, e do próprio mal sabe fazer sair o bem. Os atos dos homens, que vos parecem tão importantes, para ele nada são. É a intenção que, aos seus olhos, faz o mérito ou o demérito. Feliz, pois, aquele que é guiado pelo amor fraterno.

A Providência não criou o mal. Tudo foi feito em vista do bem. O mal só existe pela ignorância do homem e pelo mau uso que este faz das paixões, das tendências, dos instintos adquiridos no contato com a matéria. Grande Deus! Quando tu lhe tiveres inspirado a sabedoria para ter em mãos a direção desse poderoso móvel ─ a paixão ─ quantos males desaparecerão! Quanto bem resultará dessa força, da qual hoje ele não conhece senão o lado mau, que é sua obra! Oh! Continuai ardentemente a vossa obra, meus amigos! Que, enfim, a Humanidade entreveja a rota na qual deve pôr o pé, a fim de atingir a felicidade que lhe é dado adquirir nesta Terra!

Não vos admireis se as comunicações que vos dão os Espíritos elevados, inteiramente apoiadas na moral do Salvador, vo-la confirmando e a desenvolvendo, vos oferecem tantos pontos de contacto e de similitude com os mistérios dos Antigos. É que os Antigos tinham a intuição das coisas do mundo invisível e do que deveria acontecer e que diversos tinham por missão preparar os caminhos.

Observai e estudai com cuidado as comunicações que recebeis; aceitai o que a razão não recusa; repeli o que a choca; pedi esclarecimentos sobre as que vos deixam na dúvida. Tendes aqui a marcha a seguir para transmitir às gerações futuras, sem medo de vê-las desnaturadas, as verdades que separareis sem esforço de seu cortejo inevitável de erros.

Trabalhai, tornai-vos úteis aos vossos irmãos e a vós próprios. Não podeis prever a felicidade que o futuro vos reserva pela contemplação de vossa obra.

SANTO AGOSTINHO

OBSERVAÇÃO: Esta comunicação foi obtida por um jovem, médium sonâmbulo iletrado. Foi-nos enviada pelo Sr. Dumas, negociante em Sétif, membro da Sociedade Espírita de Paris, que informa que o sensitivo ignora o sentido da maioria das palavras e nos transmite o nome de dez pessoas notáveis, presentes à sessão. Os médiunsiletrados que recebem comunicações acima de seu alcance intelectual são muito numerosos. Mostraram-nos há pouco uma página verdadeiramente notável, recebida em Lyon, por uma senhora que não sabe ler nem escrever e não sabe uma palavra do que escreve; seu marido, que é quase como ela, o decifra por intuição, no correr da sessão, mas no dia seguinte isto lhe é impossível. As outras pessoas a lêem sem muita dificuldade. Não está aí a aplicação das palavras do Cristo: “Vossas mulheres e vossas filhas profetizarão e farão prodígios?Não é um prodígio escrever, pintar, desenhar, fazer música e poesia que não se o sabe? Pedis sinais materiais? Ei-los. Dirão os incrédulos que é efeito da imaginação? Se o fosse, haveria que convir que tais pessoas têm a imaginação na mão e não no cérebro. Ainda uma vez, uma teoria só é boa com a condição de explicar todos os fatos. Se um só a contradisser, é que é falsa ou incompleta.



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