Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1858

Allan Kardec

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ESTADO MORAL DOS HABITANTES

57. ─ As habitações de que nos deste uma mostra nos teus desenhos estão reunidas em cidades como aqui?

─ Sim. Aqueles que se amam se reúnem. Só as paixões estabelecem a solidão em torno do homem. Se o homem ainda mau procura o seu semelhante, que é para ele um instrumento de dor, por que o homem puro e virtuoso deveria fugir de seu irmão?

58. ─ Os Espíritos são iguais ou de várias graduações?

─ De diversos graus, mas da mesma ordem.

59. ─ Pedimos que te reportes especialmente à escala espírita que demos no segundo número da Revista e que nos digas a que ordem pertencem os Espíritos encarnados em Júpiter.

─ Todos bons, todos superiores. Por vezes o bem desce até o mal; entretanto, o mal jamais se mistura com o bem.

60. ─ Os habitantes formam diferentes povos como aqui na Terra?

─ Sim, mas todos unidos entre si pelos laços do amor.

61. ─ Sendo assim, as guerras são desconhecidas?

─ Pergunta inútil.

62. ─ O homem poderá chegar, na Terra, a um tal grau de perfeição que a guerra seja desnecessária?

─ Ele chegará a isto, sem a menor dúvida. A guerra desaparecerá com o egoísmo dos povos e à medida que melhor seja compreendida a fraternidade.

63. ─ Os povos são governados por chefes?

─ Sim.

64. ─ Em que consiste a autoridade dos chefes?

─ No seu grau superior de perfeição.

65. ─ Em que consiste a superioridade e a inferioridade dos Espíritos em Júpiter, de vez que todos são bons?

─ Eles têm maior ou menor soma de conhecimentos e de experiência; depuram-se à medida que se esclarecem.

66. ─ Como aqui na Terra, lá existem povos mais ou menos avançados que outros?

─ Não, mas entre os povos há diversos graus.

67. ─ Se o povo mais adiantado da Terra fosse transportado para Júpiter, que posição ocuparia?

─ A que entre vós é ocupada pelos macacos.

68. ─ Lá os povos se regem por leis?

─ Sim.

69. ─ Há leis penais?

─ Não há mais crimes.

70. ─ Quem faz as leis?

─ Deus as fez.

71 ─ Há ricos e pobres? Por outras palavras: há homens que vivem na abundância e no supérfluo e outros a quem falta o necessário?

─ Não. Todos são irmãos. Se um possuísse mais do que o outro, com esse repartiria; não seria feliz quando seu irmão fosse necessitado.

72. ─ De acordo com isso, as fortunas de todos seriam iguais?

─ Eu não disse que todos são igualmente ricos. Perguntaste se haveria gente com o supérfluo enquanto a outros faltasse o necessário.

73. ─ As duas respostas se nos afiguram contraditórias. Pedimos que estabeleças a concordância.

─ A ninguém falta o necessário; ninguém tem o supérfluo. Por outras palavras, a fortuna de cada um está em relação com a sua condição. Estais satisfeito?

74. ─ Agora compreendemos. Mas te perguntamos, entretanto, se aquele que tem menos não é infeliz em relação àquele que tem mais?

─ Ele não pode sentir-se infeliz, se não é invejoso nem ciumento. A inveja e o ciúme produzem mais infelizes que a miséria.

75. ─ Em que consiste a riqueza em Júpiter?

─ Em que isto vos importa?

76. ─ Há desigualdades sociais?

─ Sim.

77. ─ Em que estas se fundam?

─ Nas leis da sociedade. Uns são mais adiantados que outros na perfeição. Os superiores têm sobre os outros uma espécie de autoridade, como um pai sobre os filhos.

78. ─ As faculdades do homem são desenvolvidas pela educação?

─ Sim.

79. ─ Pode o homem adquirir bastante perfeição na Terra para merecer passar imediatamente a Júpiter?

─ Sim. Mas na Terra o homem é submetido a imperfeições a fim de estar em relação com os seus semelhantes.

80. ─ Quando um Espírito deixa a Terra e deve reencarnar-se em Júpiter, fica errante durante algum tempo, até encontrar o corpo a que se deve unir?

─ Fica errante durante algum tempo, até que se tenha livrado das imperfeições terrenas.

81. ─ Há várias religiões?

─ Não. Todos professam o bem e todos adoram um só Deus.

82. ─ Há templos e um culto?

─ Por templo há o coração do homem; por culto, o bem que ele faz.

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