Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1869

Allan Kardec

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O Espiritismo em toda parte


Lamartine




Entre as oscilações do céu e do navio,


Ao embalar das ondas enormes e lentas,


Vê-se que o homem dobra um Cabo das Tormentas,


E passa, no negror da noite em tempestade,


O trópico agitado de outra Humanidade.

O Siècle, de 20 de maio último, citava estes versos a propósito de um artigo sobre a crise comercial. Que têm eles de espíritas? perguntarão. Não se trata de almas, nem de Espíritos. Com mais razão poder-se-ia perguntar que relação eles têm com o fundo do artigo no qual foram enquadrados, tratando da tributação de mercadorias. Eles têm muito mais a ver com o Espiritismo, porque é, sob uma outra forma, o pensamento expresso pelos Espíritos sobre o futuro que se prepara; é, numa linguagem ao mesmo tempo sublime e concisa, o anúncio de convulsões que a Humanidade terá que sofrer para a sua regeneração e que, de todos os lados, os Espíritos nos fazem pressentir como iminentes. Tudo se resume neste pensamento profundo: Uma outra Humanidade, imagem da Humanidade transformada, do novo mundo moral substituindo o velho mundo que se esboroa. Os primeiros indícios dessas modificações já se fazem sentir, razão pela qual os Espíritos nos repetem em todos os tons que os tempos são chegados. O Sr. Lamartine aí fez uma verdadeira profecia, cuja realização começamos a ver.


Etienne de Jouy (Da academia francesa)



Lê-se o que se segue no tomo XVI das obras completas do Sr. de Jouy, intitulado: Misturas, página 99. É um diálogo entre Madame de Staël, morta, e o Sr. Duque de Broglie vivo.

O Sr. de Broglie:Que vejo! Será possível?

Madame de Staël: ─ Meu caro Victor, não vos alarmeis, e sem me interrogar sobre um prodígio cuja causa nenhum ser vivo poderia penetrar, gozai comigo de um momento de felicidade que a nós ambos proporciona esta aparição noturna. Vedes que há laços que a própria morte não poderia partir. A suave concordância de sentimentos, de vistas, de opiniões, forma a cadeia que liga a vida perecível à vida imortal e que impede que o que esteve longamente unido seja separado para sempre.

O Sr. de Broglie: ─ Creio que eu poderia explicar esta feliz simpatia pela concordância intelectual.

Madame de Staël: ─ Eu vos peço que nada expliquemos. Não tenho mais tempo a perder. Essas relações de amor que sobrevivem aos órgãos materiais não me deixam alheia aos sentimentos dos objetos de minhas mais ternas afeições. Meus filhos vivem; eles honram e amam a minha memória, bem o sei, mas é a isso que se limitam minhas presentes relações com a Terra. A noite da tumba envolve todo o resto.

No mesmo tomo, páginas 83 e seguintes, há outro diálogo, onde são trazidos a cena vários personagens históricos, revelando sua existência e o papel que representaram em vidas sucessivas.

O correspondente que nos dirige esta nota acrescenta:

“Eu acredito, como vós, que o melhor meio de trazer à doutrina que proclamamos, bom número de recalcitrantes, é fazê-los ver que o que eles veem como um ogro pronto a devorá-los, ou como uma ridícula palhaçada, não é senão o que nasceu, apenas pela meditação nos destinos do homem, no cérebro dos pensadores sérios de todas as idades.”

O Sr. de Jouy escrevia no começo deste século. Suas obras completas foram publicadas em 1823, em 27 volumes in 8º, pela casa Didot.


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