Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1864

Allan Kardec

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“Ao Sr. Redator do PROGRÈS COLONIAL


Senhor,

Conhecendo o vosso liberalismo, e também sabendo que vos ocupais de Espiritismo, tende a bondade de inserir em vosso próximo número a carta anexa, que foi dirigida ao Sr. Pe. de Régnon, deixando-vos a liberdade de fazer as reflexões que julgardes convenientes, no interesse da verdade.

Contando com a vossa imparcialidade, ouso pensar que me abrireis as colunas do vosso jornal, para todas as reclamações do gênero das que tenho a honra de vos enviar.

Sou, senhor, vosso humilde servo,

C.


Ao Sr. Pe. de Régnon

“Port-Louis, 26 de março de 1864.

“Sr. Padre,

“Em vossa conferência de quinta-feira última, 24 de março, atacastes o Espiritismo, e quero crer que o tenhais feito de boa-fé, posto os argumentos de que vos servistes contra ele talvez não tenham sido de inteira exatidão.

“É lamentável, de nossa parte, na condição de espírita bem convicto, que tenhais ido colhê-los fora da fonte de conhecimento positivo desta ciência. Estudando-o um pouco, teríeis sabido que repelimos, assim como vós, todas as comunicações emanadas de Espíritos grosseiros e enganadores, que com a menor experiência são facilmente reconhecidos, e que nós nos prendemos apenas àquelas que se apresentam de maneira clara, racional, e segundo as leis de Deus, que, vós o sabeis tanto quanto nós, em todos os tempos permitiu as manifestações espíritas. As Sagradas Escrituras aí estão como prova disso.

“Aliás, não negais a existência dos Espíritos, ao contrário, admitis apenas a dos maus. Eis a diferença existente entre nós.

“Nós temos certeza de que existem bons Espíritos, e de que seus conselhos, quando seguidos ─ e todo verdadeiro espírita não deixa de fazê-lo ─ conduzem mais almas a Deus e fazem muito mais prosélitos da religião do que imaginais. Mas para compreender e praticar esta ciência, bem como todas as outras, para começar é preciso instruir-se e conhecê-la a fundo.

“Assim, Sr. Padre, eu vos aconselho, primeiro em vosso interesse, depois no de todos os que têm a felicidade de vos ouvir, a ler uma das principais obras sobre o assunto, o Livro dos Espíritos, por eles ditada ao Sr. Allan Kardec, presidente da Sociedade Espírita de Paris, composta de gente séria e, em sua maioria, muito instruída.

“Aí vereis que só os ignorantes se deixam enganar por falsos nomes e palavras mentirosas, e que pelos frutos é muito fácil conhecer a árvore! Teria eu necessidade, aliás, de vos lembrar a 3ª epístola de São João, versículos 1, 2 e 3, sobre a maneira de provar os Espíritos?

“Sim, concordo, o Espiritismo é uma ciência que, assim como o que há de melhor no mundo, por vezes pode produzir grandes males, se exercida por aqueles que não a estudaram e a praticam ao acaso. Mas, então, vós, um homem prudente, deveis julgá-la sem conhecê-la?

“E nossa bela religião cristã, em nome da qual tão grande número de insensatos, de ignorantes e até mesmo de celerados cometeram tantos crimes e derramaram tanto sangue, deve ser julgada pelas ações loucas ou criminosas desses infelizes?

“Não, senhor padre, não é justo nem racional fazer um julgamento temerário de coisas sobre as quais não nos certificamos com antecedência. Deixai a superfície, ide ao fundo pelo estudo, e então podereis dele tratar com conhecimento de causa, e nós vos escutaremos com recolhimento, porque então sem dúvida estareis com a verdade, e nós não mais sorriremos dizendo baixinho para nós mesmos: ‘Ele fala do que ignora.’

“UM ESPÍRITA.”


Se o Espiritismo tem detratores, também tem defensores por toda parte, mesmo nas regiões mais afastadas.

O autor desta carta publicou em folhetins, nesse mesmo jornal, um romance muito interessante, cuja base é o Espiritismo, e que contribuiu poderosamente para a difusão destas ideias naquela região. Referir-nos-emos a isto em outra ocasião.

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