Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1860

Allan Kardec

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Estelle Riquier

O tédio, a mágoa, o desespero me devoram. Esposa culpada, mãe desnaturada, abandonei as santas alegrias da família, o domicílio conjugal embelezado pela presença de dois anjinhos descidos do Céu. Arrastada pelas veredas do vício, por um egoísmo, um orgulho e uma vaidade desenfreados, mulher sem coração, conspirei contra o santo amor daquele que Deus e os homens me haviam dado por sustentáculo e companheiro na vida. Ele buscou na morte um refúgio contra o desespero que lhe haviam causado o meu covarde abandono e a sua desonra.
O Cristo perdoou à mulher adúltera e a Madalena arrependida. A mulher adúltera tinha amado e Madalena se tinha arrependido. Mas, eu! Miserável, vendi a preço de ouro um falso amor que jamais senti. Semeei o prazer a mancheias e não colhi senão o desprezo. A miséria horrível e a fome cruel vieram pôr termo a uma vida que me era odiosa... e eu não me arrependi! E eu, miserável e infame, oh! quantas vezes empreguei, com fatal sucesso, minha influência como Espírito, para levar ao vício pobres mulheres que eu via virtuosas e gozando da felicidade que eu havia calcado aos pés. Deus jamais me perdoará? Talvez, se o desprezo que ela vos inspira não vos impedir de orar pela infeliz Estelle Riquier.

OBSERVAÇÃO: Tendo-se comunicado espontaneamente, sem ser chamado e sem ser conhecido dos assistentes, as seguintes perguntas foram dirigidas a esse Espírito.

1. ─ Em que época morrestes? ─ Há cinquenta anos.

2. ─ Onde moráveis? ─ Em Paris.

3. ─ A que classe social pertencia vosso marido? ─ À classe média.

4. ─ Com que idade morrestes? ─ Aos 32 anos.

5. ─ Por que motivo viestes espontaneamente comunicar-se conosco? ─ Foi-me permitido, para vossa instrução e para servir de exemplo.

6. ─ Tínheis recebido certa educação? ─ Sim.

7. ─ Esperamos que Deus leve em consideração a franqueza de vossa confissão e de vosso arrependimento. Pedimos que estenda sua misericórdia sobre vós, e que envie bons Espíritos para vos esclarecer sobre os meios de reparar vosso passado. ─ Oh! Obrigada, obrigada! Que Deus vos ouça!

OBSERVAÇÃO: Várias pessoas nos informaram que consideraram um dever orar pelos Espíritos sofredores que assinalamos, e que pedem assistência. Fazemos votos para que tal pensamento caridoso se generalize entre os nossos leitores. Alguns receberam a visita espontânea dos Espíritos pelos quais se haviam interessado, e que lhes vieram agradecer

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