Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1862

Allan Kardec

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Papel da sociedade de Paris (Sociedade de Paris, 24 de outubro de 1862 - Médium: Sr. Leymarie)

Paris é o ponto de desembarque do mundo. Cada um aí vem buscar uma impressão ou uma ideia.

Quando me achava em vosso meio, por vezes me perguntava por que essa grande cidade, ponto de encontro do mundo inteiro, não possuía uma reunião espírita numerosa, mas tão numerosa quanto os mais vastos anfiteatros pudessem conter.

Por vezes cheguei a pensar que os espíritas parisienses entregavam-se demais aos prazeres. Até pensei que a fé espírita para muitos era um prazer de amador, uma distração entre as muitas que Paris oferece continuamente.

Mas, longe de vós e contudo tão perto, vejo e compreendo melhor. Paris está assentada à margem de Sena, mas Paris está em toda a parte, e todos os dias essa cabeça poderosa revolve o mundo inteiro.

Como ela, a Sociedade central faz jorrar seu pensamento no Universo. Sua força não está no círculo onde se realizam suas sessões, mas em todos os países onde são seguidas as suas dissertações, em toda a parte onde ela faz lei, à vista de seus ensinos inteligentes. É um sol cujos raios benfazejos repercutem ao infinito.

Por isso mesmo, a Sociedade não pode ser um grupo comum. Seus pontos de vista são predestinados, e seu apostolado é maior. Não pode ela restringir-se a um pequeno espaço. O mundo lhe é necessário, por ser ela de natureza invasora. De fato, ela conquista, pacificamente, hoje cidades, amanhã reinos, mais tarde o mundo inteiro.

Quando um estrangeiro vos faz uma visita de cortesia, recebei-o dignamente e afetuosamente, para que leve uma grande ideia do Espiritismo, essa poderosa arma da civilização, que deve aplainar todos os caminhos, vencer todas as resistências e até todas as dúvidas. Dai largamente, para que cada um receba esse alimento do Espírito que tudo transforma em sua passagem misteriosa, porque a crença nova é forte como Deus, grande como ele, caridosa como tudo quanto emana do poder superior, que fere para consolar, dando à Humanidade em trabalho a prece e a dor por antecipação.

Bendita sejas, Sociedade que amo, tu que dás sempre com benevolência, tu que realizas uma tarefa árdua sem olhar as pedras que barram a passagem. Muito mereceste de Deus. Não serás e não poderás ser um centro ordinário, mas, ao contrário ─ repito-o ─ a fonte benfazeja onde o sofrimento virá sempre encontrar o bálsamo reparador.

SANSON

(Antigo Membro da Sociedade de Paris)

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