Palestras de além-túmulo
Sr. Jobard
Depois de sua morte, o Sr. Jobard comunicou-se várias vezes na Sociedade, em sessões a que, como diz, assiste quase sempre. Antes de publicá-las, preferimos esperar ter uma série delas, formando um conjunto que permitisse melhor apreciálas. Tínhamos a intenção de evocá-lo na sessão de 8 de novembro, mas ele previu o nosso desejo e manifestou-se espontaneamente. (Veja-se o seu necrológio, publicado na Revista Espírita de dezembro último).
Ditado espontâneo (Sociedade espírita de paris, 8 de novembro de 1861 - Médium: Sra. Costel)
Eis-me aqui, eu, que ides evocar, e que quero manifestar-me inicialmente por este médium que em vão até agora solicitei.
Para começar, quero contar minhas impressões no momento da separação de minha alma. Senti um abalo estranho e de repente lembrei-me de meu nascimento, de minha juventude, de minha idade madura. Toda a minha vida avivou-se claramente em minha memória. Experimentava um piedoso desejo de encontrar-me nas regiões reveladas por nossa querida crença. Depois todo esse tumulto se acalmou. Eu estava livre e meu corpo jazia inerte.
Ah! meus caros amigos, que emoção desvencilhar-se do peso do corpo! Que encantamento abarcar o espaço! Não creiais, porém, que de repente me tenha tornado um eleito do Senhor. Não. Estou entre os Espíritos que, tendo aprendido pouco, muito devem ainda aprender. Não demorei a me lembrar de vós, meus irmãos no exílio e, vo-lo asseguro, toda a minha simpatia, todos os meus votos vos envolveram. Tive logo o poder de me comunicar e tê-lo-ia feito por esta médium que receia ser enganada. Mas que ela sossegue, porque nós a amamos.
Quereis saber quais os Espíritos que me receberam? Quais as minhas impressões? Meus amigos foram todos os que nós evocamos; todos os irmãos que participaram dos nossos trabalhos. Vi o esplendor, mas não posso descrevê-lo. Apliquei-me em distinguir o que era verdadeiro nas comunicações, pronto a corrigir todas as asserções errôneas; enfim, pronto para ser o cavaleiro da verdade no outro mundo, como fui no vosso. Assim, falaremos muito, e isto não passa de um preâmbulo para mostrar à cara médium meu desejo de ser evocado por ela e a vós minha boa vontade em vir responder às perguntas que me ireis dirigir.
Jobard
Palestra
1. ─
Em vida tínheis recomendado que vos chamássemos quando houvésseis deixado a
Terra. Fazemo-lo não só para satisfazer ao vosso
desejo, mas sobretudo para vos renovar o testemunho de nossa simpatia muito
viva e muito sincera, e também no interesse
de nossa instrução, porque, melhor do que ninguém, estais em condição de nos dar ensinamentos
precisos sobre o mundo onde vos encontrais. Assim, ficaremos
felizes se quiserdes responder às nossas
perguntas.
─ A esta hora o que mais
importa é a vossa instrução. Quanto à vossa simpatia, eu a vejo e não a compreendo
mais apenas pelos ouvidos, o que constitui um progresso.
2. ─
Para fixar ideias e não falar vagamente, e também para instrução das pessoas
estranhas à Sociedade, mas presentes à sessão, perguntaríamos, para começar, em
que lugar estais aqui e como nós vos veríamos, se o pudéssemos?
─ Estou perto da médium. Ver-me-íeis com a aparência do
Jobard que se sentava à vossa mesa, porque os vossos olhos mortais não
descerrados veem os Espíritos na aparência mortal.
3. ─
Teríeis a possibilidade de vos tornardes visível para nós? Senão o podeis, que
é que o impede?
─ A disposição, que vos é inteiramente pessoal. Um médium
vidente me veria. Os outros não me veem.
4. ─
Este lugar é o que ocupáveis em vida, quando assistíeis às sessões, e que vos reservamos. Portanto, aqueles que
vos viram aqui devem imaginar que vos veriam tal qual éreis então. Se aqui não estais com o corpo material, estais com o
corpo fluídico, que tem a mesma forma. Se não
vos vemos com os olhos do corpo, vemos com os do pensamento. Se não vos podeis comunicar pela palavra, podeis
fazê-lo pela escrita, auxiliado por um intérprete. Nossas relações convosco não
são, pois, interrompidas pela vossa morte e podemos conversar convosco tão
fácil e completamente como outrora. As coisas são mesmo assim?
─ Sim, e o sabeis há longo tempo. Este lugar eu ocuparei
muitas vezes, mesmo sem o perceberdes, porque meu Espírito habitará entre vós.
5. ─
Há pouco tempo estáveis sentado nesse mesmo
lugar. As condições em que agora estais vos parecem estranhas? Que efeito essa mudança produz em vós?
─ As condições não me parecem
estranhas, pois não senti perturbação, e meu Espírito desencarnado desfruta de
uma clareza que não deixa obscura nenhuma das
questões que encara.
6. ─
Lembrai-vos de haver estado nas mesmas condições antes de vossa última
existência, e encontrais algo mudado?
─ Lembro-me de minhas existências
anteriores e acho que es
tou melhorado. Vejo e assimilo o que vejo.
Quando de minhas encarnações precedentes, Espírito perturbado, não percebia
senão lacunas terrenas.
7. ─
Lembrai-vos de vossa penúltima existência, a que precedeu o Sr. Jobard?
─ Em minha penúltima existência fui um mecânico, roído pela
miséria e pelo desejo de aperfeiçoar o meu trabalho. Como Jobard, realizei os
sonhos do pobre operário, e louvo a Deus, cuja bondade infinita fez germinar a
planta cuja semente havia depositado em meu cérebro.
(11 DE NOVEMBRO ─ SESSÃO PARTICULAR ─ MÉDIUM: SRA. COSTEL)
8. Evocação.
─ Aqui estou,
encantado por ter a oportunidade de te falar (à médium) e a vós também.
9. ─
Parece-nos que tendes um fraco pela médium.
─ Não me censureis. Foi preciso que me tornasse Espírito para testemunhá-lo.
10. ─ Já
vos comunicastes alhures?
─ Pouco me comuniquei. Em muitos lugares um Espírito toma o
meu nome. Por vezes eu estava presente, mas não podia manifestar-me
diretamente. Minha morte é tão recente que ainda sofro certas influências
terrenas. É preciso uma simpatia perfeita para que possa exprimir meu
pensamento. Em pouco tempo agirei indistintamente. Por ora ─ repito ─ não
posso. Quando morre um homem um pouco conhecido, chamam-no de todos os lados, e
milhares de Espíritos se apressam em revestir-se de sua individualidade. Foi o
que me aconteceu em muitas circunstâncias. Asseguro-vos que logo depois da
libertação, poucos Espíritos podem comunicar-se, mesmo por um médium preferido.
11. ─
Vossas ideias se modificaram um pouco de sexta-feira para cá?
─ São absolutamente as mesmas de sexta-feira. Pouco me
ocupei das questões puramente intelectuais, no sentido em que as compreendeis.
Como poderia, deslumbrado, arrastado pelo maravilhoso espetáculo que me cerca? Apenas os laços do Espiritismo, mais poderosos do que vós homens podeis conceber, podem
atrair meu ser para a Terra que abandono
não com alegria, pois isto seria uma impiedade, mas com profundo reconhecimento pela
libertação.
12. ─
Vedes os Espíritos que aqui estão conosco?
─ Vejo principalmente
Lázaro
e Erasto; depois, mais afastado, o Espírito
de Verdade,
planando no espaço; depois uma multidão de Espíritos amigos que
vos cercam, agradecidos e benevolentes. Sede felizes, amigos, porque boas
influências vos disputam às calamidades do erro.
13. ─
Ainda uma pergunta, por favor. Conheceis as causas de vossa morte?
─ Não me faleis disso ainda.
(SOCIEDADE, 22 DE NOVEMBRO DE 1861)
14. ─
Quando vivo, éreis de opinião que a formação da Terra se dera pela incrustação
de quatro planetas que se haviam soldado. Ainda sois da mesma opinião?
─ É um erro. As novas descobertas geológicas provam as
convulsões da Terra e a sua formação sucessiva. Como os outros planetas, a
Terra teve vida própria, e Deus não necessita dessa grande desordem ou dessa
agregação de planetas. A água e o fogo são os únicos elementos orgânicos da
Terra.
15. ─
Também pensáveis que os homens podiam entrar em catalepsia por um tempo
indeterminado e que dessa maneira o gênero humano tinha sido trazido à Terra.
─ Ilusão de minha imaginação, que excedia os limites. A
catalepsia pode ser longa, mas não indefinida. Tradições, lendas ampliadas pela
imaginação oriental. Meus amigos, já sofri muito ao repassar essas ilusões com
que alimentei o meu Espírito. Não vos enganeis mais. Aprendi muito e ─ posso
dizê-lo ─ minha inteligência, pronta para abarcar esses vastos e diversos
estudos, tinha guardado da última encarnação o amor ao maravilhoso e ao
composto tirado da imaginação popular.
(BORDEAUX, 24 DE NOVEMBRO DE 1861) (MÉDIUM: SRA. CAZEMAJOUX)
16. Evocação.
─ Já é tempo de
recomeçar? Então, o que quereis? Eis me aqui.
17. ─
Acabamos de saber de vossa morte. Como um dos campeões de nossa doutrina,
quereríeis responder a algumas perguntas?
─ Bom, eu não sei bem com quem estou, mas os Espíritos me
dizem que esta médium recebeu algumas mensagens publicadas na
Revista e que me agradaram. É necessário
que eu agora retribua. Não faz muito tempo que me ausentei da Terra, e dentro de alguns anos aí
renascerei para retomar o curso da missão que tinha a cumprir, pois
ela foi interrompida pelo anjo da libertação.
18. ─
Falais da missão que tínheis a realizar na Terra. Podeis dá-la a conhecer?
─ Missão de progresso intelectual e moral em estado de
germe. A Doutrina ou Ciência Espírita contém os elementos fecundos que devem
desenvolver, fazer crescer e amadurecer as modernas ideias de liberdade, de
unidade e de fraternidade. Por isso não se deve temer de lhe dar um vigoroso
impulso, que a fará transpor os obstáculos com uma força que nada poderá
dominar.
19. ─
Marchando mais rápido que o tempo, não devemos temer
que a Doutrina seja prejudicada?
─ Derrubaríeis os seus adversários. Vossa lentidão lhes permite ganhar terreno. Não gosto do passo lerdo e
pesado da tartaruga. Prefiro o voo audacioso do
rei dos ares.
Observação: Isso é um erro. Os partidários do
Espiritismo ganham terreno diariamente, enquanto os adversários o perdem. O Sr.
Jobard é sempre entusiasta. Ele não compreende que com prudência se
chega ao fim com mais segurança, enquanto que atirando-se de
cabeça contra os obstáculos, a gente se arrisca a comprometer a causa.
A.K.
20. ─ Como explicar, então, os desígnios de Deus vos
arrancando da Terra de maneira tão súbita, se em vós tinha um instrumento
necessário à marcha rápida da Humanidade para o
progresso moral e intelectual?
─ Oh! Que alavanca seria uma parte dos espíritas com as
minhas ideias! Mas não. O medo os paralisa.
21. ─
Podeis explicar os desígnios de Deus chamando-vos antes do término de vossa
missão?
─ Eu não me aborreci. Vejo e aprendo para estar mais forte quando soar a
hora da luta. Redobrai de fervor e de zelo pela nobre e santa causa da Humanidade. Uma só existência não basta para ver
resolver-se a crise que deve transformar a Sociedade, e muitos dentre vós, que
preparais os caminhos, revivereis depois de algum tempo, para ajudar novamente
na obra santa e abençoada. Disse-vos o bastante por esta noite, não? Mas estou
à vossa disposição. Voltarei porque sois um bom
e fervoroso adepto. Adeus. Quero assistir esta noite à sessão do nosso caro
mestre Allan Kardec.
22. ─
Não respondestes à minha pergunta sobre os desígnios de Deus, chamando-vos
antes do término de vossa missão.
─ Nós somos instrumentos próprios para ajudar nos seus desígnios. Ele nos quebra à sua vontade e nos
põe de novo em cena quando julga útil. Submetamo-nos, pois, aos seus desígnios,
sem querer aprofundá-los, porque ninguém tem o direito de rasgar o véu que oculta aos Espíritos os seus
decretos imutáveis.
Até logo!
JOBARD
(PASSY, 20 DE DEZEMBRO DE 1861- MÉDIUM: SRA. DOZON)
23.
Evocação.
─ Não sei por que me evocais. Nada sou para vós e nada vos devo.
Também nada responderei sem o
Espírito de
Verdade,
que me diz que foi Kardec quem vos pediu que me chamásseis. Bom!
Eis-me aqui. Que vos devo dizer?
24.
─ O Sr. Allan Kardec realmente nos pediu que vos
evocássemos, com o fito de controlar diversas comunicações vossas, comparando
umas às outras. É um estudo, e esperamos que vos presteis a isso, no interesse
da Ciência Espírita, descrevendo a vossa situação e as vossas impressões desde
que deixastes a Terra.
─ Eu não estava com a verdade
em tudo, na vida terrena. Agora começo a saber. Minhas ideias, depurando-se da
perturbação, chegam a uma nova claridade, e desde já me
retrato dos
erros de minhas
crenças. Isso é uma graça da bondade de Deus, mas um pouco tardia. O Sr.
Allan Kardec não tinha uma simpatia total
por meu Espírito, e assim devia ser. Ele é positivo na sua fé. Eu sonhava e
rebuscava, à margem da realidade. Não sei ao
certo o que eu queria, a não ser uma vida melhor. O Espiritismo me veio
mostrá-la e o mais esclarecido dos espíritas me ergueu o véu da vida dos
Espíritos. Foi
A Verdade quem o
inspirou.
O Livro dos Espíritos me
fez uma verdadeira revolução na alma e um bem impossível de descrever. Mas
houve em meu Espírito dúvidas sobre muitas coisas que hoje se me apresentam sob
uma luz completamente nova. Eu vos disse, no começo de minha comunicação, que desembaraçando-se da perturbação, o Espírito mostra-me
o que eu não via. O Espírito se afasta; seu desprendimento ainda não é total,
entretanto, já se comunicou várias vezes. Mas, coisa provavelmente
bizarra para vós é a mudança que se faz aos olhos dos evocadores nas
comunicações do Espírito Jobard.
Em seguida, a mesma médium recebeu a
seguinte mensagem espontânea:
Jobard era um Espírito pesquisador, querendo subir, subir
sempre. As ideias espíritas lhe pareciam um panorama muito acanhado. Jobard
representava
o espírito de curiosidade. Ele queria saber, saber sempre. Essa necessidade, essa
sede o empurraram a pesquisas que ultrapassavam os limites daquilo que Deus
quer que saibais. Não tenteis, pois, arrancar o
véu que cobre os mistérios de seu poder! Jobard levou as mãos à arca e foi
fulminado. Isso é um ensinamento. Buscai o Sol, mas não tenhais a audácia de
fixá-lo, pois ficaríeis cegos. Deus não vos dá bastante enviandovos os Espíritos?
Deixai, pois, à morte o poder que Deus lhe concedeu, o de levantar o véu àquele
que o merece. Então podereis olhar Deus, Sol dos Céus, sem serdes enceguecidos
nem fulminados pelo poder que vos diz: “Não vades mais adiante!” Eis o que vos
devo dizer!.
A VERDADE
(SOCIEDADE, 3 DE JANEIRO DE 1862 ─ MÉDIUM: SRA. COSTEL)
NOTA: O Sr. Jobard manifestou-se várias vezes em casa
do Sr. e Sra. P..., membros da Sociedade. Uma vez ele se mostrou
espontaneamente, e sem que tivessem pensado nele, a uma sonâmbula que o
descreveu de maneira muito exata e disse o seu nome, posto nunca o tivesse
conhecido. Estabeleceu-se uma conversa entre ele e o Sr. P..., por intermédio
da sonâmbula. Ele lembrou várias particularidades que nenhuma dúvida deixavam
quanto à sua identidade. Uma coisa, sobretudo, os tinha chocado: é que, na
única ocasião que tiveram de vê-lo na Sociedade, durante
quase toda a sessão ele
mantinha os olhos fixos neles, como se neles houvesse
identificado pessoas conhecidas. O fato tinha sido esquecido e o Espírito
do Sr. Jobard o recordou por intermédio da sonâmbula. O casal jamais tinha tido
contato com ele em vida e desejava saber o motivo da simpatia que lhe parecia
demonstrar.
Foi a esse respeito que
ele
ditou a seguinte comunicação:
“Incrédulo! Tu tinhas necessidade dessa confirmação da
sonâmbula para acreditar em minha identidade! Ingrato! Esqueceste-me durante
muito tempo sob o pretexto de que outros se recordam mais. Mas deixemos as
censuras e conversemos. Abordemos o assunto para o qual me
evocaste. Posso explicar facilmente por que minha
atenção se havia fixado à vista do casal que me era estranho, mas que uma
espécie de instinto, de segunda vista, de presciência, me levava a reconhecer.
Depois de minha libertação, vi que nos havíamos conhecido precedentemente e
voltei para eles ─ esta
é a palavra.
“Começo a viver espiritualmente, mais em paz e menos
perturbado pelas evocações que por vias indiretas choviam sobre mim. A
moda domina, mesmo entre os Espíritos. Quando a moda Jobard ceder o lugar a
outro e eu entrar no nada do esquecimento humano, então pedirei aos amigos
sérios ─ e com isso me refiro às inteligências que não esquecem ─ eu lhes
pedirei que me evoquem. Então esgotaremos questões tratadas muito
superficialmente, e o vosso Jobard, completamente transfigurado, vos poderá ser
útil, o que ele deseja de todo o coração.”
JOBARD
(À médium Sra. Costel)
─
Volto. Desejas saber por que manifesto
preferência por ti. Quando eu era mecânico, tu eras poeta. Eu te conheci no
hospital onde morreste, senhora!
JOBARD
(MONTREAL, CANADÁ, 19 DE DEZEMBRO DE 1861)
O Sr. Henri Lacroix nos escreve de Montreal que havia
dirigido três cartas ao Sr. Jobard, mas este só havia recebido duas. A terceira
chegou demasiado tarde, e ele só respondeu à
primeira. Tendo sabido de sua morte pelos jornais, o Sr. Lacroix recebeu comunicações
de vários Espíritos, assinadas Voltaire, Volney, Franklin, garantindo que a
notícia era falsa e que o Sr. Jobard passava muito bem.
A
Revista Espírita veio remover as
dúvidas, confirmando o acontecimento. Foi então que o Espírito do Sr. Jobard,
ao ser evocado, deu a comunicação abaixo, cuja exatidão o Sr. Lacroix nos pede
que controlemos.
Meu caro mestre, dizeis que eu
morri. Não estou morto, pois vos falo. Aqueles que se encarregaram de vos dizer
que eu não era finado, certamente quiseram pregar-vos uma peça. Não os conheço
ainda, mas os conhecerei e saberei por que motivo agiram assim. Escrevei a
Kardec e eu vos responderei. Penso que não poderei
responder pela prancheta. Em todo o caso,
tentai, e farei o que puder. As vossas duas cartas, que recebi,
contribuíram fortemente para me causar a
morte.
Mais tarde sabereis como.
JOBARD
Evocado a respeito, a 10 de janeiro, na Sociedade de Paris,
o Sr. Jobard respondeu que se reconhecia como autor da comunicação, mas que o
suposto retrato feito a seguir não era
ele nem dele, o que acreditamos sem esforço, pois não se parece com ele
absolutamente.
─ Como puderam contribuir para a vossa
morte as duas cartas recebidas?
─ Não posso nem quero dizer senão que a leitura dessas duas
cartas após a refeição determinou a congestão que me levou, ou se preferis, que me libertou.
OBSERVAÇÃO: Enquanto o médium escrevia essa resposta, e
antes que a mesma fosse lida, outro médium recebeu de seu guia particular a
seguinte resposta:
“Explicação difícil que ele não
dará em detalhes. Há coisas que Jobard não pode dizer aqui.”
─ O Sr. Lacroix deseja saber por que vários Espíritos vieram espontaneamente desmentir a notícia
de vossa morte.
─ Se ele tivesse prestado mais atenção, facilmente teria
descoberto a intrujice. Quantas vezes será necessário repetir que devemos
desconfiar, quase que absolutamente, das comunicações espontâneas a propósito
de um fato, afirmando ou negando deliberadamente?
Os Espíritos só enganam aos que se deixam enganar.
OBSERVAÇÃO: Durante essa
resposta, outro médium escreveu o seguinte:
“Espíritos que gostam de tagarelar sem compromisso com a
verdade. Há Espíritos que são como os homens: recebem uma notícia e afirmam-na
ou a negam com a mesma facilidade.”
É evidente que os nomes que assinaram o desmentido da morte
do Sr. Jobard são apócrifos. Para reconhecê-lo, bastaria considerar que
Espíritos como Franklin, Volney e Voltaire ocupam-se de coisas
sérias e que detalhes dessa espécie são
incompatíveis com o seu caráter. Isso só deveria inspirar a dúvida quanto à sua
identidade e, conseguintemente, quanto à veracidade das comunicações. Nunca
seria demais repetir: só um estudo prévio, completo e atento da Ciência
Espírita pode dar meios de desmascarar as mistificações de Espíritos
enganadores a que se expõem todos os noviços, aos quais
falta a necessária experiência.
─ Respondestes apenas à primeira carta do Sr. Lacroix. Ele
deseja uma resposta das duas outras, e principalmente da terceira que, como ele diz, tinha um cunho particular, e que só por vós
seria compreendida.
─ Ele a terá mais tarde. No momento não posso responder. Seria inútil provocála,
porquanto ele poderia estar certo de que a resposta não seria minha.
(SOCIEDADE ESPÍRITA DE PARIS, 21 DE FEVEREIRO DE 1862)
(MÉDIUM: SENHORITA ESTEFÂNIA)
Quando foi aberta a subscrição pela Sociedade, em favor dos
operários de Lyon, um sócio lançou 50 francos, dos quais 25 por sua conta e 25
em nome do Sr. Jobard. A propósito, este último deu a seguinte comunicação:
“Ainda uma vez vou responder, meu caro Kardec. Estou
sensibilizado e reconhecido por não ter sido esquecido entre os meus irmãos
espíritas. Obrigado ao coração generoso que vos levou a oferta que eu teria
feito, se ainda vivesse no vosso mundo. Naquele onde agora estou não há
necessidade de moeda. Assim, foi preciso tirá-la da bolsa da amizade para dar
provas materiais de que eu estava tocado pelo
infortúnio dos meus irmãos de Lyon.
“Bravos trabalhadores que ardentemente cultivais a vinha do
Senhor, quanto deveis crer que a caridade não é uma palavra vã, pois que
pequenos e grandes vos demonstraram simpatia e fraternidade! Estais na grande
via humanitária do progresso. Possa Deus aí vos manter e possais vós ser mais
felizes. Os Espíritos amigos vos sustentarão e triunfareis!”
JOBARD