Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1863

Allan Kardec

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Extraímos a passagem seguinte de um artigo do Écho de Sétif, de 23 de julho de 1863, em resposta à brochura intitulada Le Budget du Spiritisme, da qual falamos na Revista Espírita de junho último.

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“Não demos tanta extensão à questão e, para melhor entendimento, procedamos por ordem:

“1º ─ Credes na imortalidade da alma e eu também. Ei-nos de acordo sobre este ponto.

“2º ─ Após a morte, enviais minha alma a Deus e eu também. Segundo ponto sobre o qual estamos de acordo.

“3º ─ Uma vez minha alma chegada a Deus, quereis que ela fique em presença de Deus, vá para o inferno ou, enfim, para o purgatório. São os três únicos lugares onde permitis que ela se movimente.

“Aqui não mais estamos de acordo. Eu creio que Deus permite que uma alma viaje por toda parte. Vós lhe circunscreveis o espaço, e eu o amplio.

“Dizei-me, leal e francamente, se pensais que vossa opinião é melhor fundada que a minha. Dizei-me por que Deus impediria que minha alma viajasse após a morte do meu corpo. Tendes alguma revelação a respeito? Tendes alguma prova tirada apenas de um raciocínio? Não o creio.

“Eu tenho uma: é o raciocínio que eu levo do conhecido para o desconhecido. Deus criou leis imutáveis, que jamais se contradizem. Ora, eu vejo em a Natureza, que me é conhecida, que tudo se move, que tudo se agita, que nada fica em repouso. Deus o quer assim.

“Apenas essa verdade que eu toco, que eu sinto, me basta para provar que o mesmo se dá com os mundos que desconheço. Por vosso lado, dizei-me por que quereis que seja diferente.

“Se não contestais que minha alma possa mover-se após a morte do corpo, se ela vive, se ela sente, se ela pode comunicar-se com alguma coisa, com alguém, dizei-me por que ela não poderá jamais comunicar-se com a vossa alma, ainda ligada ao vosso corpo. Dai-me uma razão, uma razão que tenha lógica, pois do contrário eu a repilo.

“Se disserdes que vossa inteligência se recusa a crer nisso, é uma razão que não admito, porque há milhões de coisas em que vossa inteligência se recusará a crer e que, entretanto, acreditareis depois de tê-las visto. Assim fez São Tomé.

“Eu só tenho um pedido a vos fazer. Não me importo com o que credes e não tenho nisto qualquer interesse, mas vos suplico que a ninguém insulteis sem necessidade.

“Seja qual for o vosso mérito, há homens, no Espiritismo, que valem tanto quanto vós valeis. Há os que querem ver, estudar, instruir-se; há os que viram coisas surpreendentes e lhes querem conhecer as causas antes de se pronunciarem. Pois bem! Fazei como eles: Estudai, tratai de encontrar, e depois, quando tiverdes encontrado, dai-nos a explicação clara e precisa do fenômeno. Eis o que valerá mais que expressões malsonantes. Tereis feito a Ciência dar um passo e acalmado as consciências alarmadas como a vossa. Eis, enfim, um belo papel a representar!

“Antes de terminar, façamos uma última pergunta ao Sr. Leblanc de Prébois:

“Ele vendeu sua brochura, ou a publicou apenas por amor à Humanidade?

“C...”

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