Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1863

Allan Kardec

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Poesias espíritas

Por que lamentar-se? (Grupo espírita de pau - Médium: Sr. T)

O homem foi criado ativo e inteligente;

Deus o fez o artífice de seu próprio destino.

Dois caminhos lhe abriu à sua livre escolha:

Um conduz ao mal, outro conduz ao bem.

O primeiro dos dois, de aparência suave,

Pode ser transitado sem menor esforço,

Sem estudo ou cuidado, entregue à indolência,

Dos instintos brutais entregue ao mero impulso.

É tudo o que precisa.

O outro, ao contrário,

Quer esforço seguido e trabalho constante,

Completa vigilância e atenta pesquisa,

O instinto frenado e a razão operante.

Livre, pode o homem entrar pelo primeiro,

Atolar-se na treva indefinidamente;

Ao dever preferir grosseria e paixão,

À razão sobrepor instinto, brutalidade.

Mas, também, pode, docilmente escutando

Uma voz que lhe diz:

“Nasceste para crescer,

Progredir, sair da imobilidade.”

Entrar pelo segundo cheio de nobre afã.

Seu destino será o que ele escolher:

Sombra perdida, vagando ao léu, sem rumo

Ou qual noiva feliz, que marcha sorridente

Para o homem a quem o coração uniu.

Se fizerdes o mal, podereis neste mundo,

Riqueza conquistar e títulos, honrarias.

Mas a calma da alma, alegria profunda

Filha do são desejo a banhar o coração,

Estas vos fugirão; e o remorso pungente

Vos perseguirá em meio dos festins,

Mesclando, a perturbar, a nota discordante

Aos contos de triunfo, às alegres canções.

Depois, quando tiver soado a hora derradeira,

Quando o Espírito deixar o corpo que o encerrava,

De novo penetrar na esfera moral

Onde a verdade brilha e donde o erro foge,

Onde o sofisma impuro e a torpe hipocrisia

Não penetram, e tudo é luminoso,

Fantasma acusador, vossa vida culposa

Surgirá ante vós, vossos passos seguindo.

Os crimes são os carrascos e, rico,

Estarás nu; poderoso, serás abandonado.

Fugireis aterrados, tremendo como a corça

Que foge ao caçador e se sabe perdida,

Talvez, ébrio de orgulho e de tonto sofrer

Contra Deus dirijais vosso grito blasfemo,

Culpando-o pelo mal.

Contudo a consciência

Soltará ainda mais alto o grito vingador:

“Cessa de blasfemar, homem demente e mau,

Quando Deus te criou, ativo e inteligente

Somente para ti limitou seu poder,

E te fez o artífice de tua própria sorte.

Basta a tua vontade para tornar alegria

O mal que experimentas.

Contempla radioso

Aquele que seguiu a trilha do dever,

Que lutou, que venceu e conquistou os Céus.

Prêmio do mesmo esforço, a mesma recompensa

Te aguarda.

Não lamentes.

Levanta-te.

Desse Deus justo implora toda assistência:

Trabalha, luta, ora e o Céu estará em ti.


Um Espírito Protetor

Nota. Deixamos passar falhas poéticas em favor das idéias.



Mãe e filho (Sociedade espírita de Bordeaux, 6 de julho de 1862 - Médium: Sr. Ricard)

Num berço repousava belo anjo

De rosa e branco; cantando o balançava

A jovem mãe, de eterno olhar de arcanjo,

Ébria de amor sobre o filho velava!...

Oh! Como é belo o filho de minhas ternuras!

Dorme, querido, tua mãe está bem perto...

Despertando, as primeiras carícias

E teus beijos, amigo, serão para mim!...

Ah! Como é belo, meu Deus.

Tomai-me a vida,

Se tiverdes de me levar o filho...

Deixai-mo, Senhor, eu vo-lo peço!

Sua boca já murmurou: mamã!...

Esta palavra tão doce... palavra que a gente espia

Como na primavera um raio de sol...

Uma palavra de amor, cuja doce harmonia

Ao escutá-la faz sonhar com o Céu!...

Oh! Quando envolta nos seus braços;

Quando sobre meu seio bate seu coração,

Sou feliz e minh’alma inebriada

Partilha a felicidade dos eleitos...

É tudo para mim...

A criança é meu sonho!

Viver para ela... para ela, é minha sorte.

De meu amor a vivificante seiva

Deve afastar a morte deste berço...

Breve, meu Deus, amparado por mim,

Vê-lo-ei a dar os seus primeiros passos!...

Oh! dia feliz... que impaciente espero...

Temo sempre, sempre que não chegues!

E ainda nessa doce esperança,

Vejo-o grande, honrado, virtuoso,

Conservando dessa tímida infância

A pureza que deve conservá-lo feliz.

Como é belo, meu Deus!

Tomai a minha vida

Se a desgraça tiver de ferir meu filho!

Ao meu amor conservai-o, eu vo-lo imploro,

Sua boca já murmurou: mamã!...

Como está frio... o lábio está pálido!

Desperta, caro filho do meu coração!

Vem ao meu seio que te deu a vida...

Está gelado...

Eu tremo e tenho medo!

Ah! Tudo acabado! Já cessou de viver!

Pobre de mim! Já não tenho meu filho!

Deus sem piedade... de raiva estou tomada...

Não sois um Deus justo e onipotente!

Que vos fez este anjo inocente

Para tão cedo o arrebatar ao meu amor?

Agora eu abjuro toda a santa crença...

E aos vossos olhos também eu vou morrer...

...................................................................................


“Mãe!... Sou eu...

Minh’alma que voou,

“Que o Eterno envia para junto de ti.

“Maldiz, mamãe, essa raiva insensata;

“Volta a Deus... eu te trago a Fé!...

“Inclina-te ante os decretos do Senhor.

“Mãe culpada, num passado remoto...

“Fizeste morrer o filho que pariste:

“Deus te castigou! Curva-te ao seu poder!

“Toma! Toma este livro; acalmará a dor,

“Este livro santo... ditado dos Espíritos,

“Se o leres, ó mãe, tem a certeza,

“Que um dia no Céu, encontrarás teu filho!!!


Teu anjo de Guarda

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