Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1862

Allan Kardec

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A abóbora e a sensitiva (Fábula)

Qual é o teu regime, ó pobre Sensitiva?

Perguntava uma abóbora à delicada flor,

Para ficar assim, tão lânguida, tão magra?

Digo-te com pesar,

A sensibilidade te perde; tu te estiolas;

Morrerás antes da estação;

Se o sol se oculta no horizonte

Vemos se fecharem teus frágeis folíolos:

Um funesto tremor

Percorre a haste ao leve sopro da brisa:

O menor contato põe-te em crise;

Tua vida não é mais que tormento.

E por que tanto mal e tanta solicitude?

Segue o meu exemplo de doce quietude.

Aquilo que em redor de mim se passa

Não me causa a mais leve emoção;

Sustentar-me é minha única ocupação.

Aliás, que importa ao meu temperamento

O mistério do céu? ─ A luz do dia claro,

A escuridão, calor, frio, umidade

Pra tudo é igual

É certo que de minha forma rotunda,

O observador satírico e perverso

Diz: “A abóbora vegeta!”

Mas o dito não me fere.

Rindo eu rolo em leito bem nutrido,

Ansiosa de assentar, no solo que penetro

Minha barriga e meu tamanho.

Nossos gostos diferem, diz a pequena flor.

Não queres consagrar cuidados e a vida

Senão ao bem-estar material.

Mas eu faço melhor, como vês,

Mesmo abreviando a existência

Dedico-me ao prazer

Do sentimento e da inteligência

E terei sempre vivido o bastante.



DOMBRE (de Marmande)

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