Instruções práticas sobre as manifestações espíritas

Allan Kardec

Voltar ao Menu
CAPÍTULO V

DOS MÉDIUNS

Toda pessoa que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por isso mesmo, médium. Essa faculdade é inerente ao homem e, consequentemente, não é privilégio exclusivo; assim, poucos há nos quais não seja ela encontrada, embora em forma rudimentar. Pode, pois, dizer-se que todo o mundo é mais ou menos médium. Contudo, em geral essa qualificação só se aplica às pessoas nas quais a faculdade mediatriz esteja claramente caracterizada e se traduza por efeitos patentes de uma certa intensidade, o que, então, depende de uma organização mais ou menos sensitiva. Além disso, é de notar-se que essa faculdade não se revela em todos do mesmo modo: geralmente os médiuns têm uma aptidão especial para esta ou aquela ordem de fenômenos, o que determina tantas variedades quantas as espécies de manifestações[1].

Vamos entrar nalguns detalhes sobre aquelas que podem merecer observações essenciais.


MÉDIUNS DE INFLUÊNCIA FÍSICA
MÉDIUNS NATURAIS

Os médiuns de influência física são os que têm uma aptidão mais especial para a produção dos fenômenos materiais. É nessa classe que se encontram principalmente os médiuns naturais, isto é, os médiuns cuja influência se exerce mau grado seu. Não têm nenhuma consciência de seu poder e frequentemente aquilo que se passa de anormal em seu redor de modo algum lhes parece extraordinário. Isto faz parte deles mesmos, absolutamente como as pessoas dotadas de segunda vista e que não o suspeitam. Estas criaturas são muito dignas de observação e não se deve negligenciar a colheita e o estudo dos fatos desse gênero, que podem vir ao nosso conhecimento. Eles se manifestam em todas as idades, muitas vezes, até, em crianças de muito tenra idade.

Por si mesma essa faculdade não indica um estado patológico, pois não é incompatível com a saúde perfeita. Se aquele que a possui é doente, o é por uma causa outra. Assim, os meios terapêuticos são impotentes para fazer cessar a mediunidade. Em certos casos ela pode ser consecutiva de uma certa fraqueza orgânica, mas nunca é a sua causa eficiente. Assim, não se poderia razoavelmente conceber qualquer inquietação do ponto de vista higiênico: ela não poderia ter inconvenientes senão quando o sensitivo, transformado em médium facultativo, dela fizesse um emprego abusivo, porque então teria uma emissão demasiado abundante de fluido vital e, consequentemente, um enfraquecimento orgânico.

Sobretudo deve ser evitada qualquer experimentação física, sempre prejudicial às organizações sensitivas, pois aí é que está o perigo: dela poderão resultar graves desordens na economia orgânica. A razão se revolta contra a ideia de torturas morais e corpóreas, a que, por vezes, são submetidos seres fracos e delicados, visando constatar que não há qualquer charlatanice de sua parte. Fazer tais provas é jogar com a vida. O observador de boa fé não precisa empregar tais meios. Aquele que está familiarizado com esses fenômenos sabe, aliás, que os mesmos pertencem mais à ordem moral que à ordem física, e que em vão a solução seria procurada em nossas ciências exatas.

Por isso mesmo que tais fenômenos estão ligados à ordem moral, deve evitar-se escrupulosamente tudo quanto possa excitar a imaginação. Conhecem-se os acidentes que podem ser ocasionados pelo medo e seríamos menos imprudentes se conhecêssemos todos os casos de loucura e de epilepsia que se originam nos contos do Lobo-mau e do Tutu-marambá. Que dizer, então, se nos persuadirmos de que é o diabo! Os que acreditam nessas coisas não sabem a responsabilidade que assumem: podem matar! Ora, o perigo não é apenas para o sensitivo, mas também para os que o cercam e que podem ficar apavorados com a ideia de que sua casa é um antro de demônios. Foi essa crença funesta que causou tantos atos de atrocidades nos tempos da ignorância. Com um pouco mais de discernimento poder-se-ia ter pensado que ao queimar um corpo supostamente possuído pelo diabo não se queimava o próprio diabo. Desde que queriam livrar-se do diabo, este é que devia morrer. Esclarecendo-nos sobre a verdadeira causa de todos esses fenômenos, a doutrina espírita dá-lhe o golpe de misericórdia. Longe, pois, de fazer nascer tal ideia, deve-se combatê-la, caso exista, o que constitui um dever de moralidade e de humanidade.

Quando uma tal faculdade se desenvolve espontaneamente numa pessoa, deve deixar-se que o fenômeno siga o seu curso natural: a natureza é mais sábia que os homens; aliás a Providência tem seus pontos de vista e o mais humilde pode ser instrumento de grandes desígnios. Deve-se, porém, convir que o fenômeno por vezes adquire proporções fatigantes e importunas para todos. Ora, eis aqui, em todo caso, o que se deve fazer[2].

Partindo do princípio que as manifestações físicas espontâneas têm o objetivo de chamar a nossa atenção para qualquer coisa, é preciso procurar conhecer tal objetivo, para o que se deve interrogar o Ser invisível que deseja comunicar-se. A respeito demos uma explicação no capítulo das manifestações. Pode ele querer algo para si mesmo ou para a pessoa a quem se manifesta. Num caso, como no outro, é provável, conforme já dissemos, que se for atendido cessem as visitas. Aliás, eis um outro meio, como o precedente, baseado na observação dos fatos.

Os seres invisíveis, que revelam sua presença por efeitos sensíveis, geralmente são Espíritos de ordem inferior e que podem ser dominados pelo ascendente moral. É esse ascendente que devemos adquirir. Longe, pois, de nos mostrarmos submissos aos seus caprichos, devemos opor-lhes a vontade e obrigá-los a obedecer, o que não impede que condescendamos com todos os pedidos justos e legítimos que nos pudessem fazer. Aliás, tudo depende da natureza do Espírito que se comunica: pode ele ser inferior, mas benevolente, e vir com boas intenções. É disso que nos devemos assegurar e que facilmente reconheceremos pela natureza das comunicações. Mas não lhe perguntemos se é um bom Espírito, pois responderá afirmativamente quem quer que ele seja. Seria o mesmo que perguntar a um ladrão se é um homem de bem.

Para obter esse ascendente é necessário fazer o sensitivo passar do estado de médium natural ao de médium facultativo. Produz-se, então, um efeito semelhante ao que se dá no sonambulismo. Sabe-se que o sonambulismo natural geralmente cessa quando é substituído pelo sonambulismo magnético. Não se pára a faculdade emancipadora da alma: apenas se lhe dá outro curso. O mesmo acontece com a faculdade mediatriz. Para isto, em vez de entravar os fenômenos, o que raramente se consegue e que nem sempre está isento de perigo, é necessário excitar o médium a produzi-los à sua vontade, impondo-se ao Espírito. Por tal meio chega-se a dominá-lo; e de um denominador por vezes tirânico, fazemos um ser subordinado e até muito dócil. Um fato digno de observação, e justificado pela experiência, e que em semelhantes casos uma criança tem tanta e às vezes, mais autoridade que um adulto, prova nova, em apoio deste ponto capital da doutrina, que o Espírito só é criança pelo corpo e tem por si mesmo um desenvolvimento necessariamente anterior à sua encarnação atual, o qual lhe pode dar ascendente sobre os Espíritos que lhe sejam inferiores.



MÉDIUNS FACULTATIVOS


Médiuns facultativos são os que têm consciência de seu poder e produzem fenômenos espíritas por um ato da própria vontade. Tal faculdade, posto que inerente à espécie humana, como já ficou dito, está longe de encontrar-se em todos no mesmo grau. Mas se há poucas pessoas nas quais ela seja absolutamente nula, as que são aptas a produzir grandes efeitos, tais como a suspensão dos corpos no espaço, a translação aérea e sobretudo as aparições são ainda mais raras. Os mais simples efeitos são os de rotação dos objetos, os golpes vibrados pelo levantamento de um objeto ou na sua própria substância. Sem ligar uma importância capital a tais fenômenos, aconselhamos a que não sejam negligenciados: eles podem dar lugar a observações interessantes e ajudar a convicção[3]. É de notar-se, porém, que a faculdade de produzir efeitos materiais existe raramente nos que possuem mais perfeitos meios de comunicação, tais como, por exemplo, a escrita e a palavra. Geralmente ela diminui num sentido à medida que se desenvolve num outro.


MÉDIUNS ESCREVENTES OU PSICÓGRAFOS



De todos os meios de comunicação é a escrita o mais simples, o mais cômodo e, sobretudo, o mais completo. É para ela que devem tender todos os esforços, pois que permite estabelecer com os Espíritos relações tão continuadas e tão regulares quanto as que existem entre nós. Devemos a ela ligar-nos tanto mais quanto é tal meio aquele pelo qual os Espíritos melhor revelam a sua natureza e o seu grau de perfeição ou de inferioridade. Pela facilidade que têm de exprimir-se, dão-nos eles a conhecer seus pensamentos íntimos, pondo-nos, assim, em condições de os julgar e lhes apreciar o valor.

Para o médium, a faculdade de escrever é, além disso, mais suscetível de desenvolvimento pelo exercício. No capítulo dos modos de comunicações explicamos as diversas maneiras de obter a escrita. Vimos que a cesta e a prancheta apenas desempenham o papel de apêndice da mão: é um porta-lápis alongado - eis tudo. Ter-se-á êxito do mesmo modo se o lápis for colocado na ponta de uma bengala. Tais aparelhos têm a vantagem de dar uma escrita mais característica do que a obtida com a mão, mas têm o inconveniente de exigir quase sempre a cooperação de uma segunda pessoa, o que pode ser Incomodo. Por isso aconselhamos a preferência pela escrita imediata. O processo é dos mais simples: consiste simplesmente em tomar lápis e papel e colocar-se na posição de uma pessoa que escreve sem qualquer preparação. Entretanto para se ter êxito são necessárias algumas recomendações.

Como, em definitiva, é pela influência de um Espírito que a gente escreve, esse Espírito não virá se não for chamado. É, pois, necessário evocá-lo por pensamento e lhe pedir, em nome de Deus, a bondade de se comunicar. Não há para isso uma formula sacramental: quem quer que pretendesse apresentar uma pode imediatamente ser taxado de charlatanismo. O pensamento é tudo, a forma nada é. Não é menos necessário chamar um que seja simpático, e isto por duas razões: a primeira é que ele virá de melhor vontade, desde que nos estime; a segunda é que, por força dessa estima, estará mais disposto a ajudar os nossos esforços para comunicar-se conosco. Será, pois, de preferência, um parente ou um amigo. Pode entretanto, acontecer que esse parente ou esse amigo se ache numa posição que não permite venha atender ao nosso apelo, ou que não tenha força suficiente para nos fazer escrever. Por isso é sempre útil juntar à evocação a evocação do nosso Espírito familiar, seja ele quem for, sem que haja necessidade de lhe saber o nome, por isso que ele estará sempre conosco. Então, uma de duas: ou será ele quem responde, ou irá procurar o outro; em todo Caso presta o seu apoio.

Uma coisa negligenciada por quase todos os principiantes e fazer uma pergunta. E evidente que o Espírito evocado não poderá responder, desde que não seja interrogado. Poderá sem dúvida, dizer algo espontaneamente, como acontece a cada momento com os médiuns formados; mas com quem esteja ainda no princípio, o Espírito tem uma primeira dificuldade a vencer. É, pois, necessário simplificá-la tanto quanto possível, por ser o efeito que produz uma pergunta conducente a uma resposta precisa. Para começar, dever-se-á ter cuidado de formular a pergunta de tal maneira que a resposta seja apenas sim ou não; mais tarde essa precaução tornar-se-á inútil. A natureza da pergunta não é indiferente: não é preciso que, por si mesma, tenha uma importância real; ao contrário, quanto mais simples, melhor; a princípio trata-se de simples relação a estabelecer; o essencial é que não seja fútil, que não se reporte a interesses privados e, sobretudo, que seja a expressão de um sentimento benevolente e simpático para o Espírito ao qual nos dirigimos.

Coisas não menos necessárias são a calma e o recolhimento, unidos a um ardente desejo e a uma firme vontade de êxito. E pela vontade aqui entendemos não uma vontade efêmera, que age por impulsos e que a cada instante é interrompida por outras preocupações, mas uma vontade paciente, perseverante, sustentada pela prece dirigida ao Espírito evocado. O recolhimento é favorecido pela solidão, pelo silêncio e pelo afastamento de tudo quanto possa causar distrações. Agora resta apenas uma coisa a fazer: esperar sem desânimo e renovar diariamente a tentativa durante dez a quinze minutos no máximo de cada vez, possivelmente num período de quinze dias a um ou dois meses. Por isso dissemos que era preciso uma vontade paciente e perseverante. É que, por outro lado, consultados os Espíritos sobre a aptidão desta ou daquela pessoa, quase sempre dizem: “com a vontade triunfareis”. É então possível que se tenha êxito logo da primeira vez, como também é possível que se tenha de esperar durante um tempo mais ou menos longo. Em todo caso, se ao cabo de três meses não se obtiver absolutamente nada será quase inútil continuar.

É de notar-se que quando se interrogam os Espíritos a respeito de saber se se é ou não médium, quase sempre eles respondem afirmativamente, o que não impede que os ensaios sejam muitas vezes infrutíferos. Isto se explica naturalmente. Faz-se ao Espírito uma pergunta genérica e ele responde de maneira geral. Ora, como se sabe, nada mais elástico do que a faculdade mediatriz, pois que se apresenta sob as mais variadas formas e em graus muito diversos. Pode-se, pois, ser médium sem o notar e num sentido diverso daquele em que se pensa. À pergunta vaga: sou médium? o Espírito pode responder afirmativamente. A uma pergunta mais precisa, como: sou médium escrevente? ele pode responder que não. É necessário levar em conta, ainda, a natureza do Espírito interrogado. Uns são levianos e tão ignorantes que respondem a torto e a direito, como verdadeiros estorvados.

Um meio que geralmente dá resultado, quer para ativar o desenvolvimento, quer para fazer com que escreva uma pessoa, sem o auxílio do qual não o conseguiria, consiste em empregar momentaneamente, como auxiliar, um bom médium escrevente ou de outra mediunidade, mas já desenvolvido. Se este puser a mão ou os dedos sobre a mão que deve escrever, é raro que esta não o consiga imediatamente. Compreende-se o que se passa em tais circunstâncias: a mão que segura o lápis torna-se, de algum modo, um apêndice da mão do médium, como se fosse a cesta ou a prancheta. Isto, porém, não impede que o exercício seja útil, quando se o quer empregar, pois que, repetido com frequência e regularidade, ajuda a vencer o obstáculo material e provoca o desenvolvimento da faculdade. Às vezes basta magnetizar fortemente o braço e a mão daquele que deseja escrever; por vezes mesmo o magnetizador se limita a pôr a mão sobre o ombro e, como temos presenciado, ele escreve imediatamente sob tal influência. O mesmo efeito também pode produzir-se sem nenhum contado e pela simples ação da vontade. Neste caso, é necessário excitar os esforços do Espírito, encorajando-o pela palavra. Compreende-se sem dificuldade que a confiança do magnetizador em sua própria força deve aqui representar um grande papel, e que um magnetizador incrédulo exerceria pouca ou nenhuma influência.

A força que permite desenvolver nos outros a faculdade de escrever constitui uma variedade de médiuns que chamamos médiuns excitadores[4]. Talvez pareça estranho que tal faculdades exista em pessoas que não escrevem, elas próprias, sob a ação de Espíritos. Seu concurso muitas vezes é útil aos principiantes, mesmo para os que possuam uma aptidão natural. Há uma porção de pequenas precauções que muitas vezes nós desprezamos, em detrimento de um progresso rápido e que um guia experimentado faz observar, seja por disposição material, seja principalmente pela natureza das primeiras perguntas e pela maneira de as fazer. Seu papel aqui é o de um professor que dispensamos, desde que nos tornamos hábeis.

A fé no médium incipiente não é condição de rigor: incontestavelmente acompanha os esforços, mas não é indispensável; bastam o desejo e a boa vontade. Têm-se visto pessoas absolutamente incrédulas ficar admiradas de escrever, mau grado seu, enquanto que crentes sinceros não o conseguem. Isto prova que a faculdade se deve a uma disposição orgânica.

Como disposição material recomendamos evitar tudo quanto possa prejudicar o livre movimento da mão; é mesmo preferível que esta não se apoie completamente sobre o papel. A ponta do lápis deve apoiar-se suficientemente para traçar, mas não tanto que crie resistência. Todas as precauções se tornam inúteis uma vez que se consegue escrever correntemente, porque então nenhum obstáculo poderia impedi-lo: são apenas os preliminares do estudante.

O primeiro indício de uma disposição para escrever é uma espécie de frêmito no braço e na mão; pouco a pouco a mão é arrastada por um impulso que não pode dominar. Frequentemente não traça, de início, senão riscos insignificantes; depois os caracteres se definem cada vez mais e a escrita acaba adquirindo a rapidez da escrita corrente. Em todo caso é preciso abandonar a mão ao seu movimento natural e não oferecer nem resistência nem impulso.

Por vezes a escrita é bem legível e as letras e palavras bem destacadas; mas com certos médiuns é difícil decifrar outra pessoa aquilo que ele escreve, a não ser pelo hábito. Geralmente é formada por grandes traços; muitas vezes algumas palavras apenas tomam toda uma página; os Espíritos são pouco econômicos quanto ao papel. Quando uma palavra ou frase é pouco legível, pede-se ao Espírito que a recomece, o que, em geral, ele faz de boa vontade. Quando a escrita é habitualmente ilegível, mesmo para o médium, quase sempre este consegue maior correção pelos exercícios frequentes e continuados, para os quais deve contribuir com uma vontade firme, e pedir com ardor que o Espírito escreva com mais clareza. Se se quiser conservar as respostas, é bom transcrevê-las imediatamente, bem como as perguntas, enquanto as temos na memória, pois mais tarde isto às vezes se toma impossível. Certos Espíritos, antes de começar uma resposta, fazem a mão executar algumas evoluções e traçam alguns riscos sem significação: dizem que é para exercitar e desligar à mão ou estabelecer afinidade. Por vezes são emblemas ou alegorias, cuja explicação dão a seguir. Muitas vezes adotam sinais convencionais para exprimir certas ideias, que passam a um emprego regular nas reuniões habituais. Para fazer notar que uma pergunta lhes desagrada e que não desejam respondê-la, farão, por exemplo, um longo traço, ou coisa semelhante.

Quando um Espírito termina o que quer dizer ou não mais quer responder, a mão fica imóvel e, seja qual for a força e a vontade do médium, não consegue nem mais uma palavra. É sinal de que o Espírito partiu. Ao contrário, enquanto ele não concluir, o lápis se move sem que a mão consiga parar. Se quiser dizer algo espontaneamente, a mão tomará o lápis convulsivamente e começará a escrever sem que nada se lhe oponha.

Tais são as explicações mais essenciais que devemos dar relativamente ao desenvolvimento da psicografia. A experiência dará a conhecer, na prática, certos detalhes cuja referência aqui seria inútil e pelos quais nos guiaremos como complementos aos princípios gerais. Que muitos experimentem: verificar-se-á que quase não há uma família que não tenha um médium escrevente entre os seus membros, nem que seja uma criança.

Quem quer que tenha recebido o dom de escrever sob a influência dos Espíritos possui uma faculdade preciosa, porque se toma intérprete entre o mundo visível e o invisível. É muitas vezes uma missão que recebeu para o bem, mas do qual não se deve envaidecer, pois a faculdade pode lhe ser retirada se dela fizer mau uso e, até, voltar-se contra si mesmo, no sentido de que escreverá coisas más e terá apenas maus Espíritos à sua disposição. Aquele que, a despeito dos esforços e da perseverança, não chega a possuí-la, não deve, por isso, concluir desfavoravelmente à sua pessoa: é que sua organização física não se presta para isso, mas não fica deserdado das comunicações espíritas; se as não recebe diretamente, pode obtê-las muito belas e muito boas por um intermediário. Aliás, pode, em compensação, possuir outras faculdades não menos úteis. A privação de um sentido quase sempre é compensada por um outro sentido mais desenvolvido.


[1] Vide no vocabulário o verbete Médium.


[2]
Um dos mais extraordinários fatos dessa natureza, pela variedade e singularidade dos fenômenos, é incontestavelmente o que em 1852 ocorreu no Palatinato, Baviera Rhenana, em Bergzabern, perto de Wissenbourg. É tanto mais notável quanto reúne, mais ou menos, e no mesmo sensitivo, todos os gêneros de manifestações espontâneas: barulho de abalar a casa, derrubamento de móveis, lançamento de objetos à distância por mãos invisíveis, visões e aparições, sonambulismo, êxtase, catalepsia, atração elétrica, gritos e sons aéreos, instrumentos tocados sem contato, comunicações inteligentes, etc. E, o que não é de importância menor, a constatação desses fatos durante quase dois anos, por inúmeras testemunhas oculares, dignas de fé por seu saber e sua posição social. O relato autêntico foi publicado, na época, por vários jornais alemães e notadamente numa brochura hoje esgotada e muito rara. A sua tradução completa é encontrada na REVISTA ESPÍRITA de 1858, com os comentários e a explicação necessários. Tanto quanto saibamos, é a única publicação francesa feita a respeito. Além do palpitante interesse que se liga a esses fenômenos, são eles eminentemente instrutivos, do ponto de vista do estudo prático do Espiritismo.


[3] A explicação teórica é encontrado na REVISTA ESPÍRITA, nos números de maio e junho de 1858.


[4] No Vocabulário Kardec chama-os médiums communicateurs (médiuns comunicantes); nós preferimos a denominação de médiuns excitadores, porque, na verdade, sua ação é antes estimulante e auxiliar para vencer a inércia ou a distonia vibratória entre o médium e o Espírito; o médium excitador age como um estabilizador da corrente magnética-espiritual entre o Espírito e o médium. Veja-se a nota nº 6. N. do T.

TEXTOS RELACIONADOS

Mostrar itens relacionados

Utilizamos cookies para melhorar sua experiência. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.